sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Bichos escrotos


Em SP existe em média 15 ratos por habitantes
O fim vai ser quando eles tomarem consciência disto...


“Bichos!
Saiam dos lixos
Baratas!
Me deixem ver suas patas
Ratos!
Entrem nos sapatos
Do cidadão ci-vi-li-za-do”, era o que se podia ouvir ao fundo, baixo, porém nítido. Mais uma manhã ruidosa de segunda-feira.  Cabeças, pernas, braços, pés, olhos, barriga, boca transitavam pelos corredores. Eles faziam barulho, mas não se entendiam. Todo dia era a mesma coisa, seguiam o apito geral, ainda que com resistência, e entravam no quadrado. Para cada batalhão, soldados a vigiar e prontos para agir contra qualquer vazamento.

Sem querer, os pés trombaram as pernas. Muitas coisas importantes acontecem sem querer. Assim, pés e pernas descobriram que os seus movimentos eram mais ágeis juntos. Com mais agilidade também ganharam velocidade e, assim, foram esbarrando em várias partes espalhadas por aí.

As partes resultaram em corpos. Estavam juntos, mas ainda havia desconfianças e medo. Aquilo tudo era muito novo e o novo assusta na mesma medida que entusiasma. Mas a mudança já estava feita, era irreversível. Um novo campo de visão se abriu, agora eles compreendiam que estavam em um quadrado. ¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí el hombre, hasta aquí no?”, sussurrou o poeta argentino. Conscientes dos limites arbitrários, os corpos atravessaram toda e qualquer aresta e desde então não páram de caminhar.

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