terça-feira, 11 de agosto de 2020

Ceasa

Ceasa

    Sem casa

       Se casa

          Sem asa


Seis pretos

  Desfeitos

    Defeitos

     Sem leitos


51 é o número da fuga

6 é o número da realidade

Muita comida dentro

Muita miséria fora


Sujeira que cheira

Que fede, despede

Desgraça que fere

Hipocrisia que mata


O projeto colonial esfregado em nossa cara

O pacto social abrindo mais essa escara


Voltar para o útero é o desejo

Deitar feito neném chupando o dedo

E sonhando querendo ser alguém


Mais um gole que engole

Os olhos marejados, distantes, calados

Olhos silenciados, domados, esquecidos

E são apenas 8h da manhã


E a moça passa cheia de graça com suas sacolas e até dá uma esmola

Tira foto das flores, das frutas, das cores

Só não consegue registrar aquelas dores

Não dá tanto like quanto sua vida de ilusão


Então vira a esquina

Não quer fazer parte dessa desgraça

Mas aquele olho roxo não sai de sua memória

Aquele rosto sangrando, jorrando talvez o alimento mais nutritivo do dia

Insiste em atormentar a sua paz


E o sol bate e reflete naquele vermelho pobre

Naquele vermelho fraco

Naquele vermelho sangue

Simulando o início de mais uma aurora


E do outro lado, há alguns metros

Toda a imponência, riqueza e miséria

Do espaço dos lobos

Da vila dos lobos


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