Minha mãe mandou cortar o pé de amora. Era uma árvore
enorme, que ocupava um grande espaço no jardim, agora é um toco morto. E não
era qualquer pé de amora. Era o meu pé de amora. Meu irmão que plantou. A gente colocou uma
grade em volta, que era pro Brutus, nossa cachorro, não estragar. O Brutus morreu já deve ter uns dez anos, mas
o pé estava lá e a grade também. Sobrou a grade.
Minha vontade era perguntar que porra de demente manda
cortar uma árvore frutífera? Tinha merda na cabeça, caralho? Mas na bíblia diz
que devemos respeitar pai e mãe, e eu tive uma criação católica. Perguntei
calmamente, e ela respondeu com a frieza
quase de um psicopata. Pra ela não era nada demais, era só uma árvore fazendo
sombra.
Jamais entendi essas pessoas. Eu me lembro bem o dia que a
mãe da minha vizinha cortou o pé de Romã. Lembro que a gente sentava, abria uma fruta e
ficava chupando sementinha por sementinha, conversando, jogando conversa fora.
Era tão terapêutico. Acho que não é a toa que tem aquele lance da semente de
romã na virada do ano, aquilo tem uma parada religiosa forte. E ela cortou como
quem tira uma erva daninha da grama. Fazia sujeira, disse. Mães.
Eu quis dizer para a
minha o quanto aquela árvore significava pra mim, que eu sempre me enchi de
orgulho pra dizer que eu tinha um pé de amora em casa, pra dizer que o pé
estava carregado e quem quisesse podia ir lá comer. Eu me sentia tão da terra,
tão do campo. Ainda que passasse a época e eu não comece nenhuma fruta, eu
sabia que estava lá, que eu poderia comer quando eu quisesse, e eu adorava
isso.
Quis dizer que eu achava lindo quando ela estava carregada e
enchia de passarinhos. Uma vez até um tucano!Que cheguei a pensar em um dia me mudar e dar um jeito de tirar a árvore e plantar na outra casa. E que até uma das poucas músicas que compus na
vida era sobre esse pé de amora. Só tinha a música, não tinha letra, mas se
chamava Amora Temporã. Mas do que adiantaria? Ela nunca vai entender, o jardineiro não vai entender. Só eu sei
o quanto de mim tinha ali e agora não tem mais.
ai, que triste!
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