quinta-feira, 26 de junho de 2014

viver



 
encontrei nos papéis antigos, intitulado "memorial". fiz força pra lembrar do que se tratava::: não sei se consegui. mas me comoveu. como se não fosse eu. mas era:::
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"Tem nada não. Nonada, como diz Riobaldo. É um sopro: o balanço da rede, o arrastar do rio, poema lido: imagens tão intensamente vividas que cheiram à invenção. Todo mundo tem medo disto: do que põe em órbita; o que já foi, e o que retorna. A vida por vezes parece medo do acontecido, sem lugar para a chaga: a chaga só se diz no que nunca poderá, nunca deverá ser lido: memorial = a presença da ausência do que fomos e do que estamos sendo; já tentei uma e outra vez: mas a menina de lá - do papel - era demasiado desconhecida, a mim, e aos outros = me levou um e outro amor, e ficou esta - pública: fantasmas às escondidas; declarações cifradas: pose.

Há os limites impostos: não sei por que resisto: porque não tenho nenhum vício: queria ter. O da coca-cola é muito pouco: queria a loucura do viciado; a do alcoólatra; chafurdar na lama até ser um verme, até ser desacreditada de tudo; e ainda assim me sobrar a doçura; amar a vida inteira as mesmas pessoas, e amar com intensidade tal: aquela. Por que não experimentar o verme? Porque não suportaria".  (escrito em outubro de 2006).



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