quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Alguns motivos para conferir a garota exemplar de David Fincher

Até poucos dias atrás tinha certeza de que este post trataria das eleições 2014, mas o senhor David Fincher fez o favor de mudar tudo e agora me sinto na obrigação de falar sobre o seu filme mais recente. Adaptação do best seller homônimo de Gillian Flynn, Garota Exemplar (Gone girl, 2014) começa nos levando ao aniversário de casamento de Amy (Rosamund Pike) e Nick (Ben Affleck), que, não por tanta coincidência assim, é no mesmo dia do desaparecimento de Amy, mulher que transmite a imagem da mais absoluta perfeição, e que inclusive inspirou a criação de uma personagem de livros infantis que parece nunca cometer erros (a Amy Exemplar); enfim, uma mulher metódica o bastante para concretizar qualquer plano e carismática o suficiente para convencer qualquer um de qualquer coisa. Amy é, definitivamente, o tipo de pessoa cujo desaparecimento causaria uma comoção nacional, o que, de fato, acaba acontecendo, levando inclusive muitas pessoas a se voluntariem para ajudar a encontrá-la. Em oposição a isso, temos Nick, um sujeito tranquilo, sossegado até demais, que não teve nenhum grande feito na vida além de ter se casado com Amy e, que por nunca saber o que dizer ou fazer em público e aparentar certa indiferença em relação à esposa, acaba sendo apontado como principal suspeito do desaparecimento. Além de não passar exatamente a imagem do marido perfeito, as evidências encontradas pela polícia passam cada vez mais a indicá-lo como culpado e, diante da necessidade de provar-se inocente, Nick começa sua própria investigação sobre o paradeiro de Amy.

A partir desse momento, começa uma série de reviravoltas sobre a qual não vou falar aqui, pois grande parte do impacto do filme se deve ao fato de o espectador não ter a menor ideia do que está acontecendo até os momentos finais da projeção. Durante todo o filme, sempre que começamos a acreditar em alguma das versões da história, somos apresentados a alguma informação que nos leva a questionar as impressões que tínhamos até então; é como se o tapete sobre o qual descansamos os nossos pés estivesse sendo puxado o tempo todo. Tal efeito se deve, em grande parte, à excelente direção de David Fincher, que já vem nos tirando da zona de conforto desde os tempos de Clube da Luta (Fight Club, 1999) e Seven (Seven, 1995), sempre mostrando o fundo do poço a que o ser humano pode chegar em situações extremas. Vale destacar também as atuações de Rosamund Pike, que provavelmente chegará como forte candidata às premiações do próximo ano, e de Ben Affleck, que, apesar de não estar tão excepcional quanto a sua esposa da ficção, mostra uma das melhores atuações de sua carreira.

Além de todas as qualidades técnicas de Garota Exemplar, o filme ainda nos brinda com uma série de discussões sobre temas como o amor, o que somos em oposição ao que aparentamos ou queremos ser, as pequenas mentiras que contamos todos os dias para manter nossos relacionamentos vivos e as enormes mentiras contadas pelos meios de comunicação para manter a audiência e os leitores. Enfim, Garota Exemplar é um filme que pode gerar assunto para várias conversas e temas para ótimas reflexões, sendo um dos grandes lançamentos de 2014, e que merece ser visto e revisto.




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