Esta é
minha primeira eleição presidencial no Facebook. Estou me divertindo. Não tinha
ideia do tamanho do furor com que as pessoas se atacavam na busca de convencer
aquele amigo da pré-escola de que ele é um tamanho idiota por suas escolhas
retrógradas e escrotas. Por um lado eu fico feliz porque, ao menos por
algumas semanas, os “cientistas políticos” tomaram o lugar dos “comentaristas
esportivos” e minha tia deixou de me informar quantos dias, afinal, faltavam
para sexta-feira e passou a me enumerar os prejuízos que eu teria ao não votar
num candidato cristão. Por outro lado, aporrinha-me o fato de que as
discussões, na grande maioria dos casos, são vazias e despolitizadas,
baseando-se em toda a sorte de preconceitos e argumentos que não passam por qualquer
tipo de reflexão crítica, mas que, pelo contrário, apenas reproduzem o que os
donos dos grandes veículos de comunicação dizem.
Assim,
nestas últimas semanas têm desfilado por minha timeline todo
tipo de eleitores despolitizados. Digo isso porque entendo que despolitizado
não é apenas aquele que não se interessa por assuntos políticos, mas
também aquele que vota valendo-se de argumentos alheios à política (“votei
na Marina em homenagem ao Eduardo Campos” ou “não voto no PT porque o Lula é
cachaceiro”), aquele que vota baseado no cômodo senso comum (“voto
no fulano porque ele é a favor da diminuição da maioridade penal e, se pode
fazer filho, pode ir preso” ou “não voto em petralha, porque ali é tudo corrupto”)
e aquele que vota baseado unicamente em pesquisas eleitorais que,
diga-se, são encomendadas pelos já citados grandes veículos de comunicação
(“prefiro o Fulano, mas voto no Beltrano porque o Fulano está ganhando e
Beltrano não tem chance”).
No meio de
tanta tonteria, uma das coisas que
mais me chamou a atenção é a quantidade de amigos meus que está fazendo apelo
pelo voto nulo. A princípio, não acho que o voto nulo seja ilegítimo. Dentro de
um contexto democrático, o voto nulo (ou branco) representa o direito pela
escolha de não escolher. Também acredito no poder que o voto nulo tem de
manifestar o protesto de uma camada de insatisfeitos. Para citar um exemplo, a
soma de votos nulos, brancos e abstenções (eleitores que não foram votar)
superou o número de votos de quase todos os candidatos para presidente, ficando
atrás apenas da candidata Dilma Rousseff. Isso é bastante significativo e pode
servir de sinal de alerta de que as coisas não andam bem. A despeito disso
tudo, entretanto, acredito que o voto nulo pode significar um tremendo tiro no
pé.
Assim, quem vota nulo acaba por fazer com que os votos de quem escolheu algum candidato tenham um peso matemático maior. Pensando de modo totalmente pragmático, podemos dizer que os votos brancos e nulos fazem com que os candidatos precisem de menos votos para ganhar no primeiro turno, fazem com que um deputado precise de menos votos para se eleger, etc, ou seja, o voto branco e nulo torna mais fácil a vida de quem não vota nulo. Isso, ainda pensando de maneira completamente pragmática, soa um grande contrassenso.
Digo isso porque a grande maioria das pessoas que conheço e que vão votar nulo são justamente pessoas que chegaram a esta decisão por reflexões totalmente politizadas e que teriam escolhas, caso optassem por tê-las, bem mais interessantes do que as pessoas que escolhem algum candidato. Dando nome aos bois, tenho certeza que a última opção de meus amigos que votaram nulo no primeiro turno, era ter votado no Geraldo Alckmin para a reeleição em São Paulo. Caso tivessem votado em algum partido de esquerda, por exemplo, mesmo que não o agradassem em sua integralidade (isso é impossível, creio), talvez estaríamos tendo um segundo turno agora.
Os defensores do voto nulo que me perdoem, mas nesta escolha está implícita a ideia de que todos os candidatos são iguais, o que está bem longe de ser verdade. Concordo com a tese de que a democracia não se resume ao ato eleitoral e de que devemos brigar por direitos seja qual for o nome que estiver assumindo o papel de governante, no entanto, é sempre bom poder escolher quem será "o inimigo".
***
Bom, o fato é que no próximo domingo mais uma eleição terá chegado ao fim e as luzes de natal que já observo de minha janela me informam que o ano também segue o mesmo caminho. Estou curioso para saber como vai ser segunda-feira, quando minha tia voltará a me lembrar quantos dias faltam para sexta-feira e quando os comentaristas esportivos voltarão a discutir se a bola bateu na mão ou se foi a mão que, zombeteira, bateu na bola...
Boa reflexão, Fefe!
ResponderExcluirQuem sabe vc não consegue mudar o voto nulo de alguem :)
Quem sabe, Caroleta... se não conseguir, pelo menos, vale a reflexão! Bj! :)
ExcluirEu voto nulo pq não quero fazer parte desse lixo seu Ptralha Coxinha .... [ironic mode on]
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkk.... vestiu a carapuça, né?
ExcluirQuanto a mim... Que delícia será poder acordar, ficar jogado no meu sofá, e acompanhar as notícias e repercussões na TV!
ResponderExcluirBelo texto, meu jovem!
Abraço!
Valeu pela visita, Márcio! Também adoro acompanhar - freneticamente - as repercussões. Bom saber que não sou o único. Abraço!
ExcluirUtilidade pública, Lários! Eu acreditava na desinformação do voto nulo que anula eleições. Felizmente, estou fora dos debates eleitorais online, mas os offline já têm me tirado do sério!
ResponderExcluirAinda bem que a poeira do ódio eleitoral deu uma baixada agora, Barros. Confesso que não aguentava mais tanta barbárie!
Excluirmuito bom, Felipe. eu reconsiderei o meu voto nulo para presidente de última hora...
ResponderExcluirQue bom, Sirley! Espero que nosso "menos pior" se revele ao menos "bom", se não der pra ser o "melhor". Fiquemos de olho!
ExcluirComentando atrasado por causa das férias, só tenho uma coisa a dizer: esperto foi o Palmeiras, que aproveitou a mudança de foco da discussão, de futebol para política, para se livrar do rebaixamento.
ResponderExcluirAntes tarde do que nunca, antes Dilma do que Aécio! Antes o Palmeiras não cair, do que o Corinthians cair... se nem tudo dá pra ser como sonhamos, que não seja como pesadelamos! Abraço!
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