Superlua vista da Síria |
De vez em quando a Lua se aproxima da Terra. Mantém uma distância segura, mas chega um pouquinho mais perto e dá uma espiada para saber o que se passa no planeta que orbita.
A última visita havia sido em 1948. Ficou perplexa. Sentiu logo um clima de constrangimento no ar. Pareciam todos um monte de crianças que haviam acabado de serem pegas em alguma travessura grave, sabendo que era hora de arrumar a bagunça.
Boa parte da Europa estava tão destruída que chegava a assustar. A África com fome. A parte de baixo da América até que não parecia tão mal, mas havia um clima tenso, com divergências que pareciam o começo da fervura de uma panela de pressão; já a parte de cima parecia ter a situação mais tranquila, mas pairava uma vergonha gigantesca, como se a travessura tivesse sido a maior de todas.
Quando chegou na Ásia viu o nascimento de Israel e pareceu sensato, ao menos à primeira vista, aquelas pessoas que saíram da Europa para fundar o próprio Estado. A Índia chorava a morte de Gandhi, assassinato que deixou a Lua triste. E ao chegar ao Japão compreendeu o sentimento de vergonha que testemunhou na América.
A Lua ficou tão horrorizada que resolveu se afastar. Triste, mas esperançosa. Ficou com a impressão de que a travessura havia chegado ao fim. Era hora de limpar a bagunça, colar os cacos e seguir a vida.
Nesse ano a Lua voltou. Começou pelo Japão e se o que encontrasse por lá ainda mostrasse o que havia visto há quase setenta anos voltaria a se afastar de imediato. Ficou contente. Tudo arrumadinho, nem parecia que estava tudo tão bagunçado da outra vez. Teve até uma grande cratera no meio da rua consertada imediatamente para dar boa impressão.
A Europa também estava bonita. Tudo reconstruído, lavado, pintado, mas com alguns conflitos e tensões. Uma olhada mais ao sul e a África seguia faminta – ainda? até quando? – e o recém-nascido Israel cresceu mimado, o dono da bola que aos poucos foi tomando tudo como se fosse seu. Que pena. Tão promissor...
Logo ao lado entendeu boa parte da tensão europeia. Encontrou a origem de toda aquela gente que chegava ou tentava chegar, dividindo opiniões e buscando espaço, ao mesmo tempo em que faziam acusações pesadas.
A América estava estranha. Há quem diga que as divergências que começavam a ganhar corpo em sua última visita implodiram criando uma espécie de buraco negro em algumas regiões, que depois foram tampados, mas agora tinha gente com saudade do buraco negro. Que povo confuso.
O norte da América também parecia estranho. Uns felizes pela promessa de sair da crise, outros revoltados pela tendência de entrar em crise. Estão em crise ou não? Que confusão!
De novo a Lua achou melhor se afastar. Se da última vez ficou com a impressão de que estava ruim com indicativo de melhora, dessa vez achou prudente não criar expectativas. Preocupada com os próximos acontecimentos, reduziu o intervalo das visitas e agendou a próxima para 2034. Temos menos de vinte anos para melhorar nosso cartão de visitas.
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