A poesia que me cabe já não é mais a de ver cor onde não há, não é mais a de usar lentes para modificar o que vejo, não é mais a de fotografar o que tenho medo de esquecer, não é mais a de clarear o que escuro está, nem muito menos a de ver beleza onde o que é dito feio se alojou.
A poesia dos meus dias se tem feito no que é, aquilo que se mostra e não sei porque insiste em ser. A poesia que me mareja os olhos é a de ver e aceitar. É a de receber o nublado sem ter que sentir falta do sol, é a de notar a ausência sem ter que pensar na presença, é a de perder sem supor como seria ganhar. A poesia que me preenche é agora a do sentir sem parâmetros. Meus extremos não se dialogam mais, eles são o que são, cada um em sua singularidade e vivendo o seu momento e espaço sem ser necessário ser invadido pelo seu contraponto. Minha poesia está no respeito do agora. Aquilo que me vem e que não ficará para sempre e por isso apenas está. A minha alma agora brilha ou ofusca de acordo com aquilo que é, não mais com o que eu gostaria que fosse, não mais com o que gostariam que fosse, não mais com o que não é.
O positivismo que tirava a poesia da minha vida, inventava de ver beleza nos dias cinzas, coloria o preto e branco das minhas lembranças, apagava o que se recusava ter cor, escorreu-se pelo ralo e eu nem se quer senti o desespero do que não se tem volta. Escorreu pelos olhos e eu em câmera lenta vi ele se esvaindo até a última gota. Foi-se embora e tchau. Vou aceitar também.
O que me tirava a poesia não era os problemas ou a falta de cor e brilho que me arremete de tempo em tempo no girar da roda da vida. A poesia me era arrancada pela expectativa da poesia alheia. Eu vivi uma vida de poesias que não eram minhas. O que sei é que todo o colorido que se deu em minha vida, foi pela falta de respeito em aceitar o que é feio e incolor na natureza, foi por ver o ruim como inferior ao bom. Se minha alma sentiu dor, foi por pintar de arco-íris as tempestades que deveria ter me molhado. Eu antecipava o arco-íris, não deixava a chuva vir. Ilusão de viver uma vida que não é vivida, apenas adiada. Para quando? Para nunca. E se eu aceitasse a sombra dos dias ruins? Se eu acolhesse o céu nublado de minhas manhãs? Se eu aceitasse o que é feio sem tentar maquiar o imperfeito? A poesia se desfez assim pra mim.
Desmascarei as muitas máscaras que me vesti e desbotei as cores do que para mim é incolor. Me vi despindo de tantos Eus, de palavras que não eram minhas, de focos que não eram meus. Antes, quando me faltava poesia e me deparava com uma pedra, eu via tudo, menos uma pedra. Não era permitido ver pedra, tudo tinha que ser flor. Hoje não me falta poesia, aprendi a ver uma pedra, o que está além dela, o que é ser ela e não mais pintar uma flor no lugar do que é pedra.
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