terça-feira, 22 de maio de 2018

A mancha

Eu comecei a terminar de ser criança no dia em que vi a mancha. 
A mancha em formato de lua, atrás da orelha esquerda do Jordão. 

O amigo Jordão. 

O Jordão que sempre estava, 
mas nunca ficava, 
jamais se demorava. 
O Jordão que me olhava, mas nunca me via, 
o olhar fugidio de quem queria mas não podia. 
Jordão, o amigo eterno de minha mãe. 

Amigo, vejam só, o amigo de minha mãe. 

Naquele dia, 
ao se despedir como sempre, 
ele se virou como nunca.
E foi assim que eu vi.

E quando vi a mancha, em forma de lua, atrás da orelha esquerda, senti súbito minha mão saltando célere pra trás de minha própria orelha esquerda, pousando sobre a minha própria mancha em forma de lua, que eu achava 

- oh, céus, eu achava - 

que era só eu no mundo quem tinha. 

Um comentário: