quinta-feira, 30 de julho de 2009

Não verás nenhum país como este

“Por que fizeram isso comigo?”, perguntou Galdino Jesus dos Santos aos médicos que o atendiam antes de ficar inconsciente. O índio pataxó dormia num ponto de ônibus em Brasília na madrugada do dia 20 de abril de 1997, quando 5 jovens de classe média resolveram atear fogo nele. “Não sabíamos que era um índio, pensávamos que era só um mendigo”, disseram. Presos e condenados, trabalharam e estudaram fora do presídio. Nesse período, foram vistos várias vezes em bares tomando umas com amigos.

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Entrar na USP é motivo de puta alegria. No meio do zoeira do trote que aconteceu na noite de 22 de fevereiro de 1999, o calouro Edison Tsung-Chi Hsueh teve de mergulhar numa piscina. Sem saber nadar, morreu afogado. O Ministério Público denunciou 4 estudantes de Medicina por homicídio qualificado. Advogado de defesa de um dos réus, Márcio Thomaz Bastos teve de abandonar o caso para tornar-se Ministro da Justiça. Começou bem o exercício, mandando sustar o processo. Frederico Carlos Jana Neto, conhecido na época como “Ceará”, hoje é médico especializado em ortopedia/traumatologia e atende na Zona Lost paulistana. De traumas ele entende bem.

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Passou o inverno sem companhia, garotão? Seus problemas estão para acabar. Falta pouco para você cruzar com Suzane Von Richthofen por aí nas quebradas. Parecer da penitenciária considerou-a “presa exemplar” e ela pretende em pouco exibir seu bom comportamento fora do xilindró. A loira já cumpriu um sexto da pena por conta de uma bobagenzinha que aprontou acompanhada do namorado, o que lhe dá direito a pleitear o regime semiaberto. Dura lex só aqueles indefectíveis pratos âmbar, baby.

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Os caminhos divinos são insondáveis. Depois que a bispa Cleycianne disse que ela e o Estevam foram presos para evangelizar o terceiro cabra mais procurado pelo FBI, minha fé deu (com cacófato) uma guinada. Que felicidade ver o agir sobrenatural também na vidinha do ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho. Acho até que ele queria voar como anjos quando estava dirigindo alcoolizado a 190 km por hora. Nem dá pra evocar Drummond e dizer que havia duas vidas no meio do caminho. “Agradeço a Deus pela vida e a todos que estão orando por mim”, diz o outdoor que decorou as ruas de Guarapuava (PR) por duas semanas. O papai de Fernandinho disse que ele deve voltar à política. Ambiente perfeito para gente dessa laia.

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Maluf, Elias Maluco, Casal Nardoni, os 5 playboyzinhos que agrediram a doméstica carioca “porque parecia prostituta”... A lista de exemplos é sobremaneira extensa e provocaria inevitável laceamento escrotal. O fato é que de tempos em tempos aparece “uma vítima ocasional, que se converte no objeto do ódio de todos e passa a ser por reconhecimento unânime o bode expiatório”, na explicação do filósofo francês René Girard. Alguém pensou no José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, atual alvo do emputecimento verde-amarelo? Yes, esse é o nome de batismo do presidente do Senado, hoje mais evocado por menções nada honrosas à sua progenitora.

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Prezaria saber o que se passou na mente de um cara-pintada após ver a foto recente do Lula e o Collor se abraçando. Hoje me penitencio pelos adjetivos que dirigi na época àquela molecada. Afinal, hoje os nossos protestos usam técnicas de viral e nem precisamos tirar a bunda mole da cadeira para qualquer ação. Os coquetéis molotov dos protestos na década de 60 evoluíram para modernas hashtags. Basta um #forasarney para sermos invadidos por aquele sentimento de dever cumprido. Após a catarse via twitter, podemos voltar ao nosso liliputiano mundo pequeno-burguês e distrair as pessoas com textos tão genuinamente rebeldes quanto o Supla.

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Rememorar esses casos me deixou com o sangue em ebulição, agravada pela certeza de que o sentimento se extinguiria em alguns minutos. Ao comentar a morte de judeus no holocausto, o escritor Avishai Margalit ajuda a compreender esse tipo de desconforto: “Esquecer a morte deles seria o mesmo que tirar-lhes a vida pela segunda vez”. Bingo. Daqui a pouco estaremos ocupados com a estreia do Gugu na TV Record, celebraremos mais um título do Verdão e creditaremos os males do mundo à Dilma. Enquanto isso, Sarney estará na Ilha de Curupu curtindo tudo o que este país abençoado por Deus proporcionou ao seu clã nesta e nas gerações vindouras.

Imortal da Academia de Letras, quem sabe o maranhense se aventure a ler um pouco de Olavo Bilac para os petizes da família, terminando o momento literário com a frase quase épica de João Ubaldo Ribeiro: Viva o povo brasileiro!

Sérgio Pavarini de Merda

11 comentários:

  1. Difícil até encontrar palavras pra comentar depois de ler esse texto.

    PS: Eu só tiraria a parte da celebração pelo título do verdão (continuação do #mimimisãopaulino) :P

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  2. sabia que os bambis iriam chorar por outros motivos... rs

    abraço, cara.

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  3. 'estupra, mas nao mata'. lembro do exato momento em que ouvi isso do fdp que continua recebendo votos de uns sem noçao. e essa foi so a cereja do bolo de escrementos que é o sr. maluf.

    fiquei com raiva agora. beijo.

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  4. Pausa para um minuto de silêncio cheio de gritos por dentro.

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  5. Foda isso, tudo isso, inclusive minha bunda estagnada na cadeira. Se você estiver planejando algo, dá um toque, tô falando sério.

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  6. É claro que todos os tópicos me retomam um quê de indignação, de revolta. Mas o 4º em particular é um soco no estômago. Sou da cidade citada e me envergonho (envergonho mesmo) de ver esse péssimo exemplo, a proporção dessa história. Ainda mais por viver em um lugar onde política tem ares de coronelismo.

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  7. Exatamente... e eu ainda tenho que lutar contra as pessoas ditas 'as mais santas' pra colocar uma instalação(arte conceitual) na em um local sagrado, 'viu... mas que não choque muito heim... pq se chocar fica ruim'
    ...#paísdemerda

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  8. adorei o texto.
    tem um ar de relembrar o passado prá mim, infelizmente.

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  9. O Pava deixou um nó na minha garganta... Liliputiano mundo pequeno-burguês. Permissão para usar em um texto, Pava!


    Um abraço!

    JT.

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