terça-feira, 17 de agosto de 2010
As obrigações nossas de cada dia
Lendo o texto do Lucas Guedes neste blog, mais especificamente na parte que ele fala sobre a obrigação de escrever uma crítica de tudo que lê e assiste, passei a notar todas as obrigações que eu mesma me imponho.
Faz muito tempo, muito tempo mesmo, que não leio um livro pelo doce e absoluto prazer de ler. Isso porque, por trás do ato da leitura, sempre há uma amarga obrigação, por mínima que seja, em cada letra percorrida. Pode ser escrever algo a respeito, saber mais sobre determinado tema, aumentar minha lista de projetos de leitura terminados ou (malditos tempos da faculdade) fazer fichamento/resenha do conteúdo.
Ao contrário de muita gente que eu conheço, planejar ações e ter um cronograma passam longe de mim. Em viagens, embora eu teime em arrumar uma programação, deixo tudo correr. Mas em cada minuto, pesa-me a obrigação de aproveitar cada segundo, visitando todo e qualquer ponto turístico, encontrando todos os amigos moradores do local. Os minutos esgotam-se diante de tantas “tarefas”: comprar souvenirs, tirar fotos, absorver tudo que esse novo lugar me apresenta de incomum. Tudo para que as lembranças da viagem (não só as compradas, mas de certa forma adquiridas) não escapem do meu peito. O que resulta dessa minha tentativa é quase sempre uma guria exausta, fatigada da penosa sensação de não ter ficado realmente em lugar algum, de não ter sido inteira em nenhum momento.
Estou num curioso momento de transição, sem saber, com certeza, meu próximo passo. Por isso, imponho-me a obrigação de concretizar tudo o que planejei (ou tentei) para esse momento de latência. E, adivinhem? Ainda não consegui fazer nada do previsto. Li pouco (as revistas nem desencaixotei e os livros o fiz apenas hoje, um mês após minha chegada). Não fiquei tempo suficiente com meus pais, não espremi o tanto que eu queria minha irmã. Não aprendi a fazer a unha, não fiz panquecas, tampouco me matriculei na academia.
Da próxima vez, planejarei coisas menos grandiosas. Algo como: viver. Mas viver com aquele sabor doce de não ter obrigação alguma.
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tatiana lazzarotto
Tenho memórias que são quase, tenho memórias inteiras, tenho memórias que me escapam mente afora.
E-mail: tatilazz@gmail.com
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É uma boa ideia: viver. Um dia de cada vez. Qto às obrigações, mande-as passear.
ResponderExcluirBoa Tati, bem vinda ao clube do século XXI! Lembro da viagem que fiz com a turma do colégio, aos 16 anos, num hotel em Salvador. Dia livre. Pra quem estava entrando no ano do vestiba, foi a melhor sensação do mundo. Resultado? Atrasei todo o grupo, pois perdia a hora no dia seguinte... Senti essa sensação novamente apenas 9 anos depois, por apenas um dia apenas, sozinho numa praia da Toscana, lendo 100 Anos de Solidão e fazendo questão de me lembrar que no dia seguinte não havia planos. O segredo é esse: planejar um dia para não fazer nada e aproveitar muito o dia anterior!
ResponderExcluirSomos duas, Tati.
ResponderExcluir=*
Quando fiz minha primeira e unica viagem internacional - suiça/áustria/italia - quase nem dormi pra aproveitar o máximo que pudia daqueles lugares tão diferentes. Teria dado ainda mais certo se eu não ficasse tão preocupado em comprar lembrança pra todo mundo. Obs* Fiquei com vontade de comer panquecas
ResponderExcluirÉ aquela sensação de quando a gente tem um dia de folga, e tem vontade de fazer tanta coisa com o tempo livre que, quando ele acaba, vc não fez nada.
ResponderExcluirQuando a gente relaxa e esquece a palavra obrigação, as coisas fluem e as coisas se cumprem com mais velocidade do que qdo a gente fica em cima.
Sobre fazer unhas, faço assim: empurro as cutículas pra trás, passo base e taco esmalte. Depois de seco, limpo o que for pele e está pronto. É tosco, eu sei, mas fica bonitinho no final, rs.
bjs
Adoro posts sinceros. Adoro você. Bj
ResponderExcluirEu estou com pendências suspensa há anos no varalzinho aqui da memória/vida. Sinto-me frustrado do tanto que não cumpri, das leituras gambiarras, dos ensaios inconclusos, dos projetos indefinidamente suspensos. No ar, muitos desejos; no vácuo, a possibilidade de coisas que a idade vai lentamente inviabilizado. Tudo paira (a metáfora de estar no ar é surpreendente, só agora me dou conta), mas é assim. A gente segue na vida tendo no alto mil coisas penduradas, coisas que são dever ou gosto, mas que pesam, como se a carregássemos. Não seria bom se optássemos por essa facilidade de viver de modo inconsequente?
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