domingo, 17 de outubro de 2010
Contemplar
Foi isso que fez um senhor que vi diante da Fonte Gaia, em Siena, cidade italiana na região da Toscana. Eu já tinha visto fotos da fonte em livros, sabia que a encontraria enquanto folheava o guia na viagem de trem, mas não imaginava que ali aprenderia um dos maiores ensinamentos dessa viagem.
Turista deslumbrada, ao encontrar algum dos belos locais que eu desejava conhecer, sacava de imediato minha máquina fotográfica e disparava quantos flahes a bateria e o cartão de memória me permitiam. Estava empenhada justamente nisso quando o velho homem chegou. Parou em frente à fonte, debruçou-se na grade, deu uma espiadela por cima dos ombros, dos dois lados, como que para saber se alguém poderia perturbá-lo naquele grande momento. E então, iniciando o que chamo de ritual de contemplação, não apenas olhou para a fonte, mas a admirou.
Nos seus olhos, que já viram bem mais que os meus, uma mistura de deslumbramento e fascínio. Observaram, creio que pela primeira vez, atentamente a fonte que até então eu só tinha visto pelo visor da câmera. Estavámos, de fato, diante de uma grande obra. Para que tirar fotos (as mesmas que a gente vê desgastadas em livros, sites e guias), se temos a chance de contemplar ao vivo, com esses olhos de ver, a maravilha desenhada e conservada bem diante do nosso nariz?
Não deixei de tirar fotos depois disso, obviamente. Mas antes de enquadrar o monumento, contemplo-o. Enxergo com olhos bem atentos, degusto os detalhes, mesmo quando o mapa me grita o tanto de coisas que ainda tenho de visitar. Destinar as lembranças de tudo que vejo não apenas à memória virtual, mas também a minha própria, sem dúvida, tornaram-se as viagens ainda mais interessantes.
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tatiana lazzarotto
Tenho memórias que são quase, tenho memórias inteiras, tenho memórias que me escapam mente afora.
E-mail: tatilazz@gmail.com
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Me identifiquei, pois senti a mesma coisa que você nas minhas viagens. Além de ter aprendido a me encantar visualmente pelas coisas que vejo, aprendi também a não achar ruim aquele sentimento de insignificância quando me deparo com algo maravilhoso. Sou insignificante, sim. Mas carrego comigo mais grãozinho de maravilha a cada nova descoberta...
ResponderExcluir:)
Torço por ti, Tati! Aproveite tudo!!
Quando tirei a foto do quadro da Monalisa e olhei pelo visor da máquina, me senti absolutamente ridículo "Já vi isso em algum lugar. Dããã". Aí, ao invés de contemplar o quadro, tirei fotos diferentes das que conhecia! Genial, né? Não tenho lembranças do quadro "ao vivo". Só da memória digital, como vc colocou! Sorte sua tirar essa conclusão sobre contemplação antes da viagem de volta! Aproveita!!!
ResponderExcluirÉ isso, e que a câmera sirva só de apoio, que sua memória guarde tudo até os oitenta anos mais ou menos, aí você dá uma olhada nos albuns.
ResponderExcluirAproveita sim, cada segundo, Tatica. =*
...porque os grandes tesouros que trago comigo estão dentro de mim, foram presos pela retina...
ResponderExcluiralgumas fotos que tirei nem reconheço...
a grande sacada é mesmo contemplar... você está absolutamente certa !!!!
bela lição.
beijo grande
É nesse encanto contemplativo que deve estar o segredo de tudo. Mto bom! Não preciso nem dizer pra aproveitar, pq já sei que isso vc tá fazendo bem. =D
ResponderExcluirMuito bom, sabias palavras. Algo semelhante acontece nos shows. As pessoas atualmente estão muito mais preocupadas em filmar e tirar fotos do que assistir de verdade ao show.
ResponderExcluirbjos
Se todos tivessem tua percepção, vida seria vida, de verdade.
ResponderExcluirConcordo plenamente... belo texto Tati... mais uma vez...
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