Sofro de uma síndrome terrível, a qual eu chamo de Síndrome do Viajante. Todas as vezes que saio da minha casa e conheço uma nova cidade - pode ser uma cidade vizinha ou a mais distante - sou tomada de um deslumbramento enorme. Imagino como seria morar ali, as coisas que poderia fazer, as comidas que poderia comer, as pessoas que poderia conhecer. Assim, viajar é ao mesmo tempo uma alegria e um tormento para mim. Alegria pela oportunidade de conhecer inúmeras vidas diferentes da que levo, mas ao mesmo tempo, é um tormento por saber que sempre haverá um lugar mais sedutor, mais bonito e mais feliz. Se estou em uma cidade litorânea, imagino o quanto seria bom também ter a vista da montanha e se estou na montanha, quero a brisa do mar. Paradoxos. Desde que passei a levar uma vida mais séria - entenda-se: emprego fixo com carteira de trabalho - esta é a primeira vez que saio de férias. Passei as últimas três semanas viajando por várias cidades de Portugal e Espanha. Minha última cidade é Barcelona, de onde escrevo agora. Eu não conhecia a Europa e, acredito que seja por isso, a Síndrome do Viajante se manifestou com mais força: quero morar em todas as cidades em que estive. Chego ao final dessa minha travessia pela Península Ibérica um tanto confusa e encantada - de um modo meio quixotesco, eu diria.
Na mochila, trouxe comigo um livrinho do Moacyr Scliar chamado "Dicionário do Viajante Insólito", que reúne crônicas sobre viagens e viajantes. No final de cada página há uma frase célebre sobre o tema. Selecionei algumas:
"Viajar expande a nossa capacidade de simpatia, redimindo-nos da reclusão e da modorra dos limites da nossa personalidade”. (José Enrique Rodo)
“Não há trem que eu não tomaria. Não importa o lugar para onde vai”. (Edna St. Vincent Milay)
“Uma bela viagem é uma obra de arte” (André Suares)
“Viajar! Perder países!/ Ser outro constantemente,/ Por alma não ter raízes/ De viver de ver somente!/ Não pertencer nem a mim! Ir em frente, ir a seguir!/ A ausência de ter um fim,/ E da ânsia de o conseguir!”. (Fernando Pessoa)
“A viagem pode ser uma das mais compensadoras formas de introspecção”. (Lawrence Durrell)
“O mundo é um livro. Quem não viaja, só lê uma página”. (Santo Agostinho)
“Não viajo para chegar a algum lugar. Viajo para viajar”. (Robert Louis Stevenson) “Viajar faz com que a realidade regule a imaginação”. (Samuel Johnson)
“Navigare necesse est, vivere non est necesse (Navegar é preciso, viver não é preciso)”. (Provérbio latino)
“Não viajamos só pelo prazer de ver, mas pelo prazer de contar”. (Blaise Pascal)
“Viajar é conversar com os séculos”. (Descartes)
PS. Aqui dia 27 já foi ontem. Para os atrasados, essa é a vantagem de estar cinco horas na frente!
Colega, Luana!
ResponderExcluirPrimeiramente, parabéns por dar o ar de sua graça mesmo estando aí, do outro lado do oceano!
Segundamente, saiba que um dos assuntos de nosso dia aqui no Brasil foi justamente este: "Luana e suas raízes que crescem rápido"
Terceiramente, quero dizer que gostei muito de sua "confissão"
Quartamente: Volte logo porque estamos com saudades...rsrsr
A gente volta pra casa com um pedaço de cada lugar por onde passou, como se a cada novo percurso, uma flor brotasse no próprio jardim.
ResponderExcluirQuanta eloquência, Híndira Barros! Não gasta, meu... ainda tem dia 10...
ResponderExcluirQuando voltar, traga um pouco de cada lugar com vc, mas só na mente, nas fotos, não enche esse mochila pelo amor de Deus, hei, vc não precisa disso ai não, pode tirar da mala, larga rsss - abandona esse "a genti podi pissisa"
ResponderExcluircompartilho muito disso tudo! estou prestes a voltar do intercâmbio...e a vontade de mundo não diminui. onde serão as próximas aventuras?
ResponderExcluirParabéns, Luana! Me identifiquei muito com seu texto, porque sou "estrangeira", sou errante, meio inconformada com o tanto de mundo que há no mundo. Seu texto, como sempre, me inspirou. E o Scliar é muito especial para mim, tive uma relação muito bacana com ele em vida. http://tatilazz.blogspot.com.br/2011/02/meu-caso-com-o-moacyr-scliar.html Um beijo grande!
ResponderExcluirEi, gente, só voltei a me conectar hoje. Obrigada pelas mensagens. Meu post ficou com um ar de deslumbramento talvez meio exagerado... depois de dois anos sem férias, isso foi inevitável. Voltei à vida cotidiana e a pensar sobre a vida do lado de cá, em São Paulo.
ResponderExcluirSofro do mesmo mal. Acho as vezes que se trata de um estudo de campo, um dia quando for rica, quando não tiver mais medo do novo e quando conseguir resumir com as algumas palavras á distância o tamanho do amor que tenho por algumas pessoas, posso então viver entre as montanhas, na praia e aonde os meus pés me levarem...
ResponderExcluirEu também tenho esta síndrome Luana!
ResponderExcluirComo viajo constantemente a trabalho e um pouco a lazer (tá virando raridade), faço questão de ser parte daquele universo.
Assim, ando de ônibus para conhecer os pontos turísticos, visito supermercados, farmácias, ando pela rua como se fosse nativo e gosto de ver a expressão das pessoas, ouvir as conversas, ser mesmo parte daquele lugar.
E olha, viajar é bom demais, nem que seja ficar um dia em cada cidade.
Abs!