Se por um lado as redes sociais escancararam opiniões retrógradas de pessoas que insistem no autoritarismo e intolerância para expressarem posições políticas, por outro alguns grupos tradicionalmente alvos de preconceitos passaram a se unir, trocar experiências e, com toda a razão, não tolerar comportamentos considerados naturais até pouco tempo atrás.
O movimento feminista é um dos que utilizam as redes sociais com muita competência. De repente a culpabilização das vítimas de diversas formas de assédio e agressões começou a, finalmente, ser rechaçada; não por ser uma insanidade em si, mas graças à união de mulheres que passaram a reivindicar o que deveria ser óbvio: direitos iguais.
Ainda falta muita coisa para que os direitos mais elementares das mulheres sejam igualados aos dos homens, desde o direito a receber a mesma remuneração pelo mesmo trabalho até nuances do comportamento machista, tão enraizado e assimilado em nossa sociedade. Mas aos poucos o movimento feminista vem crescendo e ampliando sua abrangência.
O contato que tenho com amigas e grupos feministas tem me ensinado muitas coisas. A primeira é exatamente essa, ou seja, o contato que tenho com o feminismo serve para que eu aprenda, não para que tenha a pretensão de ensinar. É um movimento autônomo e por mais que os homens tentem entender, certas agressões só são plenamente compreendidas por quem as sofre.
Um termo ainda pouco conhecido, mas indispensável: Gaslighting. O debate sobre agressões físicas está um pouco mais avançado e, mesmo que muitas mulheres ainda sejam agredidas, parece um pouco mais fácil de argumentar que nenhuma agressão tem justificativa ou defesa. Porém nem toda dominação se dá por meio da força física e é aqui que entra o conceito de gaslighting, uma espécie de dominação psicológica, que não existe somente na relação entre homens e mulheres, mas historicamente é bastante usada por machistas.
Através do gaslighting a vítima tem sua autoestima atacada constantemente, até que se sinta frágil, indefesa e dependente de seu agressor, que pode não agir de forma consciente, com a intenção premeditada de criar uma relação de dependência, mas com a ideia de superioridade tão assimilada e a facilidade que algumas pessoas têm de manipular fatos e sentimentos, o gaslighting pode ter consequências até mais graves que uma agressão física.
Um outro termo recente, ainda não dicionarizado, é sororidade. Não por acaso, na sociedade machista as mulheres muitas vezes são colocadas como inimigas entre si. Ela roubou meu marido, ela usa roupas provocantes, ela não se valoriza, etc. Enquanto os homens passam praticamente despercebidos, muitas vezes até vitimizados.
A ideia de sororidade propõe uma união entre as mulheres para combater uma opressão que é comum a todas. Claro que lidar com uma traição é sempre difícil, acaba ficando de certa forma confortante acreditar que o companheiro, com quem ela fazia planos para uma vida conjunta, foi na verdade seduzido, mantendo assim uma dose de inocência. Em uma situação assim a sororidade evidencia uma postura racional: o mínimo que se espera de alguém com quem planejamos nossa vida é respeito e consideração.
Acreditar que o pobre homem foi apenas seduzido e não conseguiu segurar seus instintos é corroborar com o machismo tanto quanto aqueles que questionam a culpa da vítima em um estupro, ou que dizem que lugar da mulher é na cozinha, ou que aproveitam uma condução cheia para passar se esfregando desnecessariamente nas mulheres, ou tantos outros “ous” que poderiam ser citados.
É difícil romper com um padrão de comportamento tão enraizado na sociedade. Nossas bases são machistas, todas as grandes religiões, a cultura, a filosofia, etc. e isso fica bastante claro pela própria necessidade de um texto como este. Nada disso teria sido escrito por mim há dez anos atrás, porém tudo isso já era óbvio há dez anos atrás. A resistência ao feminismo é grande, mas parece não haver outra saída senão a militância, a compreensão e a união.
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