Colocando os pesos na balança, pra ver o que compensava ou não, cheguei à conclusão de que este ano o saldo foi positivo. Apesar de sentir muita falta da estabilidade ou de conseguir descansar enquanto durmo, melhor assim. Quando saímos da zona de conforto, percebemos que ela não era tão confortável, afinal.
Dizem que leva em torno de 27
anos para os planetas completarem um ciclo e se alinharem de uma maneira muito
parecida como a de quando você nasceu. Dizem que este é o momento em que tudo
desaba e você se encontra cara a cara consigo mesmo.
Faz dez dias que fiz aniversário.
Há um ano e dez dias atrás, eu me lembro bem daquela manhã, eu não imaginava
que estaria aqui. Não imaginava tudo o que aconteceria neste espaço de um ano,
eventos que me transformariam numa pessoa completamente diferente daquela que
acordava (mais tarde que o normal e com um pouco de ressaca) na manhã de
dezoito de dezembro de 2014.
2015 não foi um ano fácil. Lembro de ter várias vezes repetido que este
foi o pior ano da minha vida, e não sei se estou tão certa sobre isto, mas asseguro
foi um dos mais difíceis até agora.
Mas também foi um ano no qual
descobri o quanto posso ser forte. Foi o ano no qual me conheci melhor, e até
onde posso ir.
Neste período de um ano perdi
vários elementos que me eram queridos e importantes. Perdi também a conta de
quantas vezes não consegui parar de chorar, não consegui energia para sair da
cama, achei muitas vezes que não tinha mais sentido, e de como estive à mercê
de pessoas que me machucavam pela simples necessidade controle. Cada pessoa
tenta reagir da melhor maneira que consegue, mas é quando você está no fundo do
poço que percebe o nível de quem está por perto.
Sofri ameaças, fui roubada, perdi
minha casa, perdi a confiança nos outros e várias coisas outras que me foram
perdidas. Entre tantas outras coisas que aconteceram este ano, estas serviram
para mudar drasticamente meu posicionamento e o modo como encarava tudo.
Por muito tempo me esforcei para
levar em consideração e relevar muitas das coisas que eram feitas,
principalmente as que me atingiam diretamente. Mas não era suficiente, nunca
foi. E foi ficando cada vez mais agressivo e violento. A partir do meu primeiro
não, comecei a lutar por mim. Foi um período em que me senti infinitamente
sozinha. Logo eu, que tinha uma auto-confiança extremamente problemática, tive
que encontrar coragem, acreditar e me forçar a ser mais resistente a cada
momento.
Felizmente, foi quando percebi
que era cercada por pessoas incríveis. Pessoas que não me deixaram, amigos
queridos que me deram apoio, mesmo à distância.
Consegui um emprego. Não desisti
da faculdade. Apresentei minha iniciação científica. Em São Paulo, fui acolhida por uma família incrível, que não me
pediu nada em troca, só queriam que eu estudasse e conseguisse me acertar na
vida. E a minha família foi primordial para eu continuar. Voltei à terapia. Às vezes tive insônia, ataques de ansiedade e
pânico. Ainda tive muito medo, também quis me esconder de tudo. Entretanto,
isto não era mais uma opção.
“It would be wonderful
to say you regretted it. It would be easy. But what does it mean? What does it
mean to regret when you have no choice? It's what you can bear. There it is. No
one's going to forgive me. It was death. I chose life.”
Em um ano minha vida se tornou
algo caótico e doloroso.
Mas, como disse bem no comecinho, teve seu lado bom.
E teve seu saldo positivo, porque
tive amparo. Porque teve gente que simplesmente surgiu na porta do meu trabalho
com um agasalho, porque viu na previsão do tempo que ia fazer frio e ficou
preocupada comigo. Teve gente que quis sair pra ficar conversando. Teve gente
que ficou do meu lado quando tive medo. Teve gente que surgia pra dar apoio e
comer batata frita. Teve gente que me acolhia em casa. Teve gente que me levou
ao pronto socorro à uma da manhã, porque eu liguei bêbada e com a mão
estourada. Teve gente que veio só pra dar um abraço. Teve gente que me ligava e
ficava conversando comigo, até minha crise de ansiedade passar. Teve gente que
mandou mensagem quase todos os dias, perguntando como eu estava. Teve gente que
me fez rir. Teve gente que me ligou porque estava preocupada. Teve gente que
fez planos mirabolantes comigo. Teve gente que me ajudou a trocar os curativos
da minha mão. Teve gente que me deu os puxões de orelha que eu precisava. Teve
gente que topava sair pra comer, quando eu chamava em cima da hora. Teve gente
que chegou com chocolates. Teve gente que me chamava no Skype para contar algo
novo. Teve gente que discutia livros comigo. Teve gente com quem compartilhei
conversas. Teve gente com quem compartilhei silêncios. Teve gente que
simplesmente estava lá.
No período compreendido entre o
18 de dezembro do ano passado e o deste ano, pessoas entraram e saíram da minha
vida, outras ficaram apenas o tempo que foi necessário, e outras fizeram sua
presença constante, mesmo estando longe.
Essas pessoas, pessoas queridas,
não desistiram de mim, mesmo quando até eu já tinha desistido.
É para elas que deixo este meu
muito obrigado, de coração.
Não teria conseguido sem vocês.
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