segunda-feira, 20 de junho de 2016

Zoo(i)lógico

Costumo ter sérias divergências com um amigo a respeito dos zoológicos. Enquanto ele é contra qualquer tipo de cativeiro animal, se recusando a visitar um local que para ele é considerado essencialmente um presídio, eu tento relativizar algumas coisas, considerando que nem toda forma de cativeiro animal é uma tortura.

O problema é que nossos debates esbarram em suposições de ambas as partes. Somos contra a captura de um animal selvagem ou nascido em liberdade para que sejam expostos em jaulas; contra o zoo argentino que, segundo ativistas, seda animais selvagens, segundo administradores, adestram leões e tigres para que turistas possam chegar perto; contra instalações irregulares, etc.

As divergências começam quando afirmo que os atuais zoológicos podem ter um papel fundamental na manutenção de espécies ameaçadas e em estudos que ajudem a melhor relação entre humanos e outras espécies. Eu preferia que pudéssemos viver em paz e harmonia com a natureza, respeitando biomas e limitando nossa atuação em áreas preservadas, mas talvez nem a própria espécie humana sobreviva até que tenhamos esse nível de comprometimento ético.

Não afirmo que estou certo, apenas coloco essa hipótese em contraponto à recusa terminante em considerar a viabilidade dos zoológicos. Quando chegamos ao bem-estar dos animais é inevitável uma especulação quanto ao sentimento que o cativeiro produz nos bichos. Há uma consciência de que estão privados de liberdade ou esse seria um conceito filosófico restrito aos humanos?

Se não há consenso entre especialistas que dedicam a vida para tentar entender o comportamento de determinadas espécies, não haverá entre leigos que refletem a partir de hipóteses. Mas existe uma espécie cujo comportamento podemos debater com propriedade: a humana.

Recentemente dois leões, um gorila e cinco jacarés foram abatidos devido ao contato com humanos. Com exceção dos jacarés, que estavam em um lago sem proteção, os demais estavam em zoológicos.

Uma breve visita a um zoológico nos faz pensar se toda a segurança é pensada para proteção dos visitantes ou dos animais. Não dá para negar que o comportamento humano é patético, evidenciando uma falta de respeito latente por parte da espécie que se vangloria de ser a única racional.

Gritos histéricos, objetos atirados e tentativas desesperadas de fazer com que os animais – os presos – façam algum movimento são exemplos de como os visitantes não conseguem diferenciar aqueles bichos de um pequeno poodle domesticado, sendo que até este último, mesmo tendo nascido e crescido entre humanos, demonstrando extremo afeto pelos donos, precisa de um espaço próprio e pode reagir ao se sentir ameaçado.

O comportamento das pessoas em relação aos animais deveria ser uma preocupação contínua. Após alguma tragédia as reações giram em torno da busca por um culpado em quem possa ser aplicada uma punição, porém nada vai recuperar as vidas perdidas e apesar dos acidentes serem esporádicos, os comportamentos imprudentes são cotidianos.

Parece óbvio, mas os incidentes recentes evidenciam a necessidade de deixar claro para a espécie racional que os outros animais não serão complacentes com a necessidade de uma selfie, sequer terão paciência com as provocações humanas. Na natureza – aquela selvagem, que os civilizados temem – o espaço de cada animal é instintivamente respeitado pelos demais, se não temos esse instinto, que o respeito venha pelo bom senso, educação, até pelo medo, mas que seja uma preocupação constante, não somente depois das tragédias.

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