O que eu sei não faz de mim
alguém especial. O que eu sei? Alguns ensinamentos bíblicos e científicos,
algumas putarias e coisas aleatórias como que eu não deveria correr perto de
cachorros mesmo se eles correrem atrás de mim. Mas no dia que um cachorro
rosnou e correu atrás de mim, que se fingir de morto que nada, não tive dúvidas
e corri o mais que pude! É engraçado como ainda que a gente saiba das coisas
faz tudo ao contrário. Por teimosia ou simplesmente por esperança besta. Quem nunca torceu por um final de filme
diferente daquele que se sabia que o mocinho ia morrer? “Vai Rose, reveza com o
Jack que essa água tá fria pra caralho e ele pode morrer”!
Eu poderia ensinar gerações mais
jovens com lições como “não se deve beber água e correr em seguida” porque dá
dor na barriga. Ou que a Terra gira em torno do seu próprio eixo e também ao
redor do sol. Fiquei muito feliz quando era criança e descobri porque existem
estações do ano! A vida é mais excitante na infância... Ou não, a memória também
é uma ilha de edição. Eu sei que quando você tem medo fatalmente a vítima de
qualquer coisa que dê errado em um grupo de corajosos será você. Como daquela
vez em que as crianças estavam brincando de pular entre as lajes de duas casas
vizinhas, todo mundo dizia “Vai! Pula! É só pegar impulso!” e pulavam com tanta
facilidade e eu fiquei lá, no canto, não queria pular, estava morrendo de medo.
Mas quem quer ser covarde? Aí aceitei o desafio: não deu outra, não sei como
errei o salto e caí. Meu braço quebrou, mas até que era legal deixar meus
colegas de sala assinarem no gesso.
Não sei como os humanos
descobriram que certos alimentos eram alimentos. Quem cozinhou ou fritou o
primeiro ovo? O animal tá lá em desenvolvimento e pá! “Vamos esquentar isso
daqui e comer”! A resposta deve ser aquilo que dizem que a criatividade vem com
a necessidade. Eu não sei como um avião pode voar ou pra quê servem as contas de
logaritmo. Também não sei daquele meu ex-melhor amigo, se ele ainda deseja
trilhar o mesmo caminho, se está fazendo o que dizia que não faria ou quem
ele é hoje. Nem sei daquela minha amiga que sonhava em ser astrônoma, se ela
insistiu no sonho ou não. Ou daquelas pessoas que juraram amor eterno por mim,
não sei se elas ainda se lembram que eu existo.
Às vezes, não sei se eu existo.
Pareço uma máquina reproduzindo ordens, respondendo aos estímulos que me dão,
vivendo de acordo com o roteiro criado por terceiros. Mas há outros momentos
onde acredito mesmo que sim, que eu existo, aí eu sonho, amo, o mundo é fora e é
dentro de mim, sinto que tenho poderes, me sinto capaz de fazer tudo o que
desejar! Quando me perguntam “e ae? Como vai a vida?” a resposta mais completa
seria que a vida segue com seus pares: sei e não sei das coisas; sei e finjo que
não sei; não sei e finjo que sei e por aí vai...
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