terça-feira, 1 de novembro de 2016

A Caneta na Pedra: “Não existe distintivo de escritor”

*Texto originalmente publicado no blog Viver da Escrita: http://viverdaescrita.com.br/a-caneta-na-pedra-nao-existe-distintivo-de-escritor/*
Eu comecei a escrever num fórum de RPG, fortuitamente o mesmo no qual o dono do blog começou a escrever contos. Passei anos e anos pensando que escrever era legal e mantendo um ou outro blog de contos e pseudo-crônicas. Mas nunca me passou pela cabeça que alguém me pagaria para escrever, até que isso foi quase atirado no meu colo.
Tudo começou há um tempo atrás na Ilha do Sol na república na qual morava Andressa, minha companheira. Estávamos conversando, eu, ela e um dos outros moradores do local, e me empolguei falando de quadrinhos, literatura e nerdices no geral. E num desses papos sobre quadrinhos e a qualidade de roteiros para crianças que o Chicão, um dos caras para quem eu mais devo na vida, soltou: “Mas você tem as manhas de escrever algo assim?”
E aí, amigues, a cabeça deu pane.
Sempre fui daqueles que falava mais do que fazia. Era o indivíduo que “sabia escrever melhor do que você” mas não produzia porcaria nenhuma (eu sei, recalque mata). Tinha medo de não ser bom o suficiente, me sentia inadequado e todas essas coisas que vocês já sentiram. Mas acabei falando que sim, que eu escreveria. E foi aí que a minha vida no maravilhoso mundo da escrita profissional começou.
O Chico me levou para escrever uns livros infantis na editora na qual trabalha, e eu fui. Me empolguei e percebi que levava jeito de verdade para a coisa. Eu me interessei por roteiro e escrevi alguns, estudei para me tornar revisor, leitor crítico e todas essas coisas de gente chata que olha para o seu texto e fica apontando defeito, apesar do esforço incrível que você fez para produzir. Depois dos livros infantis, me envolvi em outros projetos literários, escrevi alguns textos para publicidade e comecei a ser mais crítico quanto a leituras, técnica e que tais.
Foi quando entrei num limbo.
O que me deixava suspenso nesse estado de confusão e, honestamente, ainda me deixa, é a pergunta: Quando posso/devo começar a dizer às pessoas que sou um escritor? Eu escrevo, reviso, roteirizo, ajudo autores, edito livros e o caramba. Mas o que garante que sou um escritor “de verdade’?
Passei anos lendo sobre “Síndrome do Impostor”, secretamente invejando gente menos complexada do que eu e duvidando de quem se apresentava como escritor.
Agora eu deveria dizer que isso passou. Mas não passou, não totalmente.
A verdade é que, como qualquer outra neurose ou insegurança que carrego, eu me esforcei para aprender a lidar com isso. Não tenho nenhuma fórmula mágica, o que eu costumo fazer é tão bobo e simples que… vá lá, julguem vocês mesmos.
A minha “solução” foi levar a definição de “escritor” para níveis pedagógicos e simples a ponto de serem compreensíveis para a criança que eu fui quando comecei a me interessar por escrita. Me joguei algumas perguntas como: Você escreve e compartilha isso com pessoas? Se esforça? Lê e estuda a respeito de escrita tentando melhorar? Se você respondeu sim para essas três perguntas, já é suficiente. Não é preciso nadar em milhões de dólares, ser tão famoso quanto Jesus Cristo ou vender tanto quanto alguém cujo sobrenome saltita por aí, tem olhos vermelhos e pelo branquinho.
Você só precisa escrever. Colocar pra fora essas histórias, ideias e loucuras que você tem aí dentro da cabeça flutuando. Parece fácil, né?
Eu não vou me prolongar na longa jornada que é se tornar um bom escritor, aprender a vender o seu trabalho, em quanta gente incrível e quanta gente sacana você vai encontrar por aí porque… bom, tem todo um blog sobre isso aqui ao redor, como vocês bem sabem. Explorem o material que o Rodrigo traz, colem nos grupos de escritores da sua região, leiam, escrevam e façam o caramba a quatro, mas não se esqueçam disso:
Se você escreve, compartilha isso com pessoas (porque vender, nem todo mundo vende) e se esforça para escrever mais e melhor, pode se chamar de escritor.
Porque não existem achievements, damas encantadas entregando espadas, uma caneta mística numa pedra ou uma fada da escrita. É só gente comum como eu e você, colocando ideias num papel ou numa tela. E ainda bem que é assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário