Prezados leitores,
Primeiro eu gostaria de me apresentar. Sou 2016. É, o ano. Acontece que o responsável pelo dia vinte está de saco cheio da vida e me cedeu o espaço.
Depois gostaria de deixar claro que ainda não terminei. Vocês não dizem que o ano só começa depois do carnaval? Pois é, estamos nesse período de transição e eu quero aproveitar que estou velho e ranzinza para lavar a roupa suja nesses últimos dias.
Todo mundo desceu a lenha em mim, sobretudo nos últimos meses, mas eu cansei de ser bode expiatório. Nem vou entrar na polêmica de que vocês só dão ênfase para as coisas ruins e esquecem as boas. Se esqueceram talvez não tenham sido tão boas, ou vocês são masoquistas contidos.
Preciso deixar claro uma coisa: eu não existo. Pois é. Apesar de estar aqui, escrevendo, não passo de uma criação humana, em dois sentidos. Um é que sou um recorte quase aleatório do tempo. O ocidente me chama de 2016, os judeus de 5777, os chineses de 4714 e por aí vai.
Isso é o de menos. Me chamem como quiserem. O principal – e me surpreende ter que dizer o óbvio – é que eu não existo porque não faço nada! Eu só estou de passagem. Parem de fazer bobagem e por a culpa em mim.
“Ai, mas morreu um monte de gente famosa!” E eu, que culpa tenho? Se pararem para pensar, todos os anos uma leva de famosos bate as botas – e nasce também, só que vocês só vão perceber isso daqui algum tempo –, mas por acaso fui eu quem decolou o avião da Chapecoense com menos combustível que o necessário? Bombardeei a Síria? Atropelei franceses e alemães?
Diria até que para cada tragédia famosa se foram vários anônimos, e não venham me culpar por isso. Fui bissexto. No meu Natal teve crime de homofobia – nos outros 365 dias também! No meu último dia teve feminicídio – nos outros 365 dias também! E não é de hoje que vocês repetem crimes sem aprender nada, estou errado?
O 2017 está aqui ao meu lado; pequenino ainda. Foi recebido com muita esperança, principalmente pelos que deixaram sua primeira manhã repleta de garrafas espalhadas pelas ruas e praias. Só vocês mesmo para oferecer uma recepção tão emporcalhada. A minha também foi assim, pensam que eu esqueci?
Vou aproveitar esse período de transição para tentar passar alguns alertas ao novo ano. Já disse que no final será cobrado, desde os famosos que morrerão até os times rebaixados. Os amores desfeitos, os kilos acumulados, os futuros atentados, o calor, o frio, a chuva, etc.
Deixei para ele um alerta que repito aqui: tem gente esperando que a política entre nos trilhos. Já estou até vendo depois de alguns meses isso entrar na conta do pequeno 2017, também! Mas não, isso não é culpa dele nem minha. Não elegemos o Doria, nem o Trump, tampouco colocamos o Temer no poder. Quem plantou que assuma a colheita!
“Ai, mas eu não votei em nenhum desses, não joguei lixo na praia nem matei ninguém!” Ok, não quero cair no mesmo erro de jogar a culpa nas mãos erradas, mas antes de falar mal do pequeno 2017 quando ele já estiver velho igual a mim, pense bem nas suas atitudes. Esse ano não vai fazer nada. Só vai passar.
Passar bem!
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