Acordei
ressabiada com os sonhos de ontem. Sonhos esses que, na verdade, já foram a
realidade de um tempo mais distante. No final das contas, o que nos sobra é
isso – a ilusão, a saudade e aquele cheiro de naftalina nas gavetas do armário.
Os fatos travestidos de fantasmas caminharam
ao meu lado, como amigos leais, por todas as horas da minha inquebrável rotina.
Procurei me manter sensata, distante, como manda o figurino. Mas as memórias
daqueles dias abriram uma cratera no meio da sala impossível de ignorar e pouco
a pouco fui caindo, submergindo até sobrar um espelho embaçado, incapaz de
mostrar a minha face.
Naqueles
(outros) dias tudo era brisa e montanhas. As pedras da calçada faziam cócegas
na alma. Tudo era imenso no coração da gente e, por isso, a gente sonhava. Eu
sonhava. Quando fecho meus olhos consigo sentir o cheiro daquelas paragens no
início da contagem dos meses: nas roupas que só secavam ao longo de uma semana –
devido à umidade -, nos gases vespertinos daquela indústria, no odor sábio dos
móveis e das antigas casas.
Todo
o novo dentro de mim parecia impregnado de possibilidades a se bordarem na roca
da vida. O tempo, ali, estava com a sua ampulheta suspensa. Devagar passava e
nos enganava – que iria durar.
Ouro Preto, tarde de neblina, 2011.
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