“Fica mais um pouquinho?”
“Não posso. O horário de visita acabou, mas amanhã eu volto, viu?”
Antes de ir ele ainda teve um tempinho para confortar aquele choro que ela não conseguiu conter por ficar sozinha, no hospital, em uma situação tão delicada. Um beijo na testa e um último afago no rosto, para secar as lágrimas, e o horário havia de fato acabado.
Por enquanto não tinha mais nada que ele pudesse fazer. O melhor era voltar para casa e tentar descansar um pouco. Enquanto esperava pelo ônibus aquele pedido martelava em sua cabeça. “Fica mais um pouquinho?”.
Passar a noite em claro na sala de espera do hospital foi tempo mais que suficiente para pensar na vida. Em seus quase oitenta anos, nos sessenta anos de casado, em quanta coisa cabe em uma vida partilhada.
Achou que estava em débito. Achou, não. De fato, estava. Poderia ter sido mais atencioso, mais presente, mais carinhoso. Havia sido sempre menos. Nunca aprendeu a ser diferente e parece que agora teria que aprender na marra. Não seria tarde? Aquele pedido deu forças para acreditar que não.
Já no ônibus, queria chegar em casa logo. Não era longe, mas pareceu uma longa viagem. Quando chegou, parecia ter entrado em um local desconhecido. Não era a mesma casa sem ela.
Precisava de um banho. Um longo banho frio para se recompor. Quando a água molhou seu corpo, chorou. Ele que nunca havia chorado, nem quando perdeu os pais, nem quando perdeu o olho esquerdo em um acidente, nem quando perdeu um neto para o câncer.
Não é que não se emocionava, só as lágrimas que não vinham. Dessa vez foi diferente. A incerteza do futuro, a solidão, a injustiça de não poder trocar de lugar e ficar no hospital no lugar dela.
Ele finalmente chorou tudo o que estava acumulado ao longo de uma vida.
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