sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

É melhor investir em imóveis do que em relacionamentos

Desde pequena sou observadora, mas tudo na vida que é uma benção também é uma maldição. Observo tanto que acabo vendo coisas que não gosto e me deixam triste. E além disso tenho uma memória excelente, lembro de tudo, de datas, nomes, momentos.

De repente cismo com alguma coisa e começo a observar. Já faz muito tempo que venho reparando algumas coisas em casais amigos. Instintivamente, mesmo novinha, sempre achei que isso de casamento, de dividir vida, era uma coisa meio sufocante, eu sentia isso, mas não conseguia explicar o porquê.


Tenho lido muito sobre a questão do papel da mulher em uma sociedade machista e percebo como muitas das minhas crenças eram errôneas e talvez eu sentisse isso no fundo da alma, que alguma parte discurso estava errada, e eu  tentava reagir. Lembro muito de sempre ter escutado uma frase ''para os homens o amor é um capítulo, para as mulheres o livro inteiro''.


Em um patriarcado o que se espera das mulheres era que se jogassem no relacionamento, se entreguem por completo e vivam em função do homem. Mesmo no século 21 vejo em algumas amigas mais disposição para viver a história de amor do que os homens. Eles juram mais, mas na prática quem compra a questão inteira é a mulher, ela vira uma parceira automaticamente, enquanto eles vão encostando.


O tempo passa e amigos que eu vi casar há alguns anos começam a dar sinais de desgaste. Tudo na vida um dia acaba, o problema é quando essa coisa se arrasta meses e faz todos sofrerem.


De tanto observar comecei a perceber o seguinte, vale muito a pena investir em si mesmo, seja estudando, seja fazendo alguma coisa que traga prazer. Também vale a pena investir em imóveis e nos filhos, tem alguma coisa ali de amor incondicional. Mas fora isso, investir em um relacionamento é a maior roubada que a pessoa pode fazer, é como guardar dinheiro embaixo do colchão, depois de anos resolvem usar o dinheiro e ele não vale mais nada, porque são notas antigas.


O outro, a outra, são areias movediças e o que se pode construir em terrenos assim? Nada. O ser humano não é confiável e não é mais tão seguro quanto um dia pareceu ser. Hoje as coisas se movimentam diferente e as pessoas se sentem livres para procurar o que tem vontade de fazer, sem amarras. Isso é muito bom, mas quem investe em um relacionamento tem todas as chances de se dar mal, porque não pode prever as reações alheias.


Vi amigas que investiram pesado em relacionamentos se esfolando vivas. Quantas coisas a gente investe em nós mesmos e não dá em nada? Imagina no outro, esse ser que não conhecemos.


Bom mesmo seria viver o amor, a paixão livremente, sem investir nada além do mínimo, sem sacrifícios e discussões que não levam a nada, deu certo, então vai em frente, emperrou, sai fora, mas não invista.


Não só amigas vi morrer na praia, também as mulheres da minha família. De geração anterior se dedicaram a trabalhar, cuidar dos filhos e incentivar o benhê, esse amor que com o tempo vira encosto. Não receberam nada por isso, pelo investimento no seu amor, pelo contrário, foram abusadas e exploradas até a última gota.


Quando estamos com alguém não damos só nosso amor, também vai a energia, o tempo, muitas vezes o dinheiro, e outras coisas, tudo isso deve ser colocado em um papel e se perguntar se vale a pena investir tanto em alguém e qual será o retorno.


Sempre que escrevo isso alguém vem me dizer que eu sou fria, porque pessoas quando se apaixonam são felizes, a vida é sobre isso. Ah, é mesmo? Bom saber, porque pior do que o amor é o tempo, esse sim devasta tudo e te joga na cara todas as bobagens que você fez. Se eu sei que não vale a pena investir em um relacionamento é porque já perdi alguma coisa e me vi obrigada a fazer as contas e perceber que investir em pessoas sempre dá prejuízo.


Acho ótimo amar, beijar, ficar, se apaixonar, tudo isso é bom demais, mas conheço o prejuízo do dia seguinte, que pode custar anos para a pessoa se recuperar. Por isso quem quiser investir no seu amor tem que ter espírito de monge tibetano, uma coisa desapegada mesmo, então a pessoa investe e não sofre ao perder tudo. Mas eu não sou monge, nem tibetana, sou virginiana e pão dura, não me interessam investimentos que não vão me dar retorno e ainda por cima dão prejuízo.


Meu avô no seu machismo sempre dizia:


-As mulheres nem todo o ouro, nem todo o amor.

Em uma versão atualizada gosto mais de pensar -''As pessoas nem todo o ouro, nem todo o amor''. Precaver não mata ninguém. E tudo que pensamos ser digno da nossa atenção e amor, pode não ser. Mas quem vai cuidar dos nossos investimentos? Nós. E se não prestamos atenção nisso quem vai pagar o erro somos nós.

Iara De Dupont

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