quinta-feira, 7 de junho de 2018

Águas da Prata

                           Caminhavam pela noite. Ouvia-se pequenos burburinhos no interior das casas – a TV e seu milagroso creme com o retorno da juventude em duas aplicações, a dança das tampas e suas panelas no fundo da cozinha, um avô tossindo suas dores. A cidade era pequena, conservara um charme decadente, vestígios da época em que os cassinos eram a festa e a água, a cura. O vazio ocupava as largas ruas repletas de noites. Eles continuavam a perambular, cambaleantes de conhaque e cigarro. O vento de outono atingia a pele com rispidez a cada trago que compartilhavam.

            Caminhavam pela noite, mas, ouso dizer, a noite os encaminhava. Havia uma urgência de vida. Despertos, sonhavam realidades possíveis.

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