segunda-feira, 20 de agosto de 2018

A recomendação de segurança

Agenor havia sido promovido. Agora seria responsável pela segurança. Começou arrumando uma dívida, mas era por uma boa causa. Precisava comprar um terno caro. Era imprescindível que responsáveis pela segurança vestissem um terno caro.

E lá se foi Agenor para sua tarefa. Em meio aos risos e conversas descontraídas dos clientes do bar, que se espalhavam pelas mesas da calçada, Agenor ficava atento. Prevenir era sempre melhor que remediar, portanto ele interrompia os brindes, as conversas de happy hour e se necessário até mesmo os beijos apaixonados dos casais imprudentes.

Havia passado os últimos três dias em frente ao espelho, decorando o texto e treinando as melhores expressões faciais para passar segurança, afinal era para isso que fora contratado.

"Boa noite. (...) Boa noite? Muito bem. Permitam que eu me apresente. Eu sou o Agenor, sou responsável pela segurança de vocês. Estou aqui para assegurar que nada de mal vai acontecer. Eu conto com a colaboração de vocês. Permitam que eu dê uma recomendação de segurança: caso algum pedinte se aproxime, não entrem em pânico, não deem dinheiro para não estimular a prática, não ofereçam comida, não puxem conversa. Sigam essas instruções e nada de mal acontecerá. Tenham uma boa noite." E se afastava para cumprir sua função.

Tudo seria muito mais fácil, não fossem os imprudentes. A maioria seguia as recomendações, diante do perigo iminente apenas recuava e clamava pela ajuda de Agenor, que corria expulsar os maus elementos que colocavam a paz e a ordem em risco. Tudo na mais perfeita harmonia, não fossem os imprudentes.

Não passava uma noite sem ter que agir com mais vigor, graças àqueles que, contrariando as regras explícitas de segurança, davam moedas – moedas! – aos vagabundos que se aproximavam.

Era a hora de agir sorrateiramente, expulsar os transeuntes que ofereciam um perigo inegável à gente de bem que se espalhava pelas mesas da calçada, lamentando não poder agir com todo o rigor que gostaria.

O maior problema era o direitos humanos. As pessoas que agiam de forma imprudente e ainda criticavam Agenor quando ele realizava seu trabalho da forma mais competente possível. Precisava de todo jogo de cintura para, depois de se certificar de que o perigo havia sido afastado, se aproximar da mesa dos imprudentes com o olhar sério, semelhante ao que lançava aos próprios filhos diante de uma travessura.

“Boa noite. Lembram do que eu disse? Eu conto com a colaboração de vocês! É uma recomendação de segurança. Por favor, não estimulem esse tipo de atitude.”

E voltava a se afastar, dessa vez mantendo uma atenção especial à mesa dos transgressores da ordem. Só não conseguia compreender qual a dificuldade daquelas pessoas de ter uma atitude de gente de bem e ajudar a escorraçar os maus elementos. Vai entender...

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