Num diário
exercício de cegueira controlada,
nós
mascaramos o mundo.
Mascaramos
a falta de pão,
a
falta de escola,
os
gritos da vizinha que chora,
o
tio violento, o presidente virulento,
o
desaforo recebido, os mortos e os feridos.
Mascaramos
até mesmo nosso ofício de mascarar.
Mascaramos
para poder dormir tranquilos na cama quente,
para
poder sair de casa com a cara limpa,
rumo
a um mundo-cloroquina de respostas fáceis e pessoas felizes.
As
máscaras esterilizam o mundo,
tornam as
dores herméticas,
as
diferenças opacas,
estampam
falsos sorrisos em bocas que querem gritar,
em
dentes que querem morder
em
rostos que querem vazar, se contorcer de dor.
E quando
todas as máscaras caírem,
o mundo se
mostrará desnudo.
Os
andaimes do castelo estarão à mostra
e todos
poderão ver de que traumas ele é feito,
sob sua
ciranda de mascarados
a desfilar
num carnaval de dores.
Felipe, escuta esta estória: Há uns meses atrás, eu, pela primeira vez desde que o uso de máscaras se tornou obrigatório, estava fazendo compras no mercado. Estava de máscara e todos no mercado, também.
ResponderExcluirNa fila do pão, rolando uma música ambiente, paro pra prestar atenção justo no trecho que diz: "Tira a máscara que cobre o teu rosto. Se mostra e eu descobro se eu gosto do seu verdadeiro jeito de ser..."
Quase dou um berro, tamanha a ironia! Pitty que lute, agora somos todos mascarados
hahahahhaha... que bizarro!
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