A MORTE é o primeiro
recurso diante da crise. Sem corpo nem véus escuros, ela se apresenta quando
parece que não existem saídas para a dor ou o vazio. A morte é a desistência
humana para cada instante que deixamos de estar aqui, em presente do agora, prontos
a fazer uma escolha e, alheios aos destinos de um passo dado ou de uma frase
dita, recuamos diante das consequências: nossos destinos.
Então a morte manda um
beijo e um até logo... e faz um “xizinho”
no tabuleiro.
A maioria - a maioria
é gente - acha tédio ficar em cima do seu cavalinho, decidindo o que é e o que
resulta da sua existência. Deve ser um saco se deparar com a frustração de viver
sem sentido, guiados pelo desejo social do “angario” e pelos “modelitos”
visuais do momento.
De fato todos – nenhum
de nós escapa – tem sua referência de comportamento, seus deuses, seu cartão de
crédito.
Yo mismo, quando descobri minhas próprias asas, confiei na direção do vento e na
temperatura da sombra ou da luz para me decidir em algumas situações. O olfato
para descobrir os perigos. O olho grande aberto para resolver a bifurcação. A
paz para me achar no caminho. E a simplicidade para aceitar ou rejeitar minhas
decisões e suas consequências.
Até hoje dá certo – ao
menos para mim – desse jeito... porém a vida e os homens pedem mais do que isso.
Quando se pensa na
vida, olhando para trás, não temos escolha, sabemos exatamente o porquê de
estarmos neste lugar, humano e temporal. Cada exato segundo, sem julgamento,
pertence a este nosso corpo, a esta nuestra
vida nossa. Aceitar essas condições é essencial para abraçar a morte, lhe
dar um beijo e vê-la partir na maior paz.
Somos feitos de
escolhas: nossos passos dados, nossas frases ditas.
[música para continuar lendo]
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Até que um dia chega
um filho, não importa os fluxos que nos levaram até eles. Todo feito e todo
discurso, cobra um novo sentido e mais, novas consequências. Neles que se tem
um reflexo daquilo que fomos quando crianças e neles que vemos nosso espelho de
futuro. Qualquer alegria é dupla. Qualquer tristeza é imensa. Toda dor é
gigantesca. O amor, infinito.
A morte então vira
parceira porque os instantes, todos, são indispensáveis, únicos, esplêndidos e
a “gente” vive – com dois ou mais corações – como se não houvesse depois, nem
amanhã. Tudo é agora, dádiva.
Então a morte se desvanece;
se desfaz em sorrisos e choros. Em brincadeiras. Insônias. Pequenos bocados
feito aviõezinhos. Em filas, festas, frestas de sol brilhando no escuro de um
quarto. Na pessoa que a partir do começo, aberta as pernas e a vida, caminhará
lado a lado até certa despedida. Única despedida que, mesmo que dura ou sombria,
não conhece a morte na sua partida.
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Olá Demis! Que bom ler seu texto. Sinto que preciso ler de novo, mas vou comentar com a primeira impressão. Assim que comecei a ler achei que vc iria defender o dualismo "vida-morte", mas depois vi que vc coloca a importância do papel da morte, do "saber que vamos morrer", do medo de morrer e de ver alguem morrendo...A morte faz parte demais da nossa vida. E que bom que podemos morrer, por mais difícil que seja.
ResponderExcluircaroloutra! o ótimo das leituras são as diversas interpretações, esses voos individuais que nos permite a subjetividade... eu sempre temi da morte, ficava rouxo de escutar a palavra na adolescência, até hoje tem esse calafrio... a contraposição se dá hoje porque a inevitavel presença "dela" faz com que eu olhe para meu presente quase com a devoção que morte preza para ela... um filho, meu filho, tem dado um foco supradivino para vida... a morte continuará a se prestigiar, porém cada dia, mais importante que nunca o amor à vida se impõem.
ResponderExcluirPuxa, que bonito! Fui entristecendo enquanto lia e, eis que de repente, ao chegar no final, até sorri.
ResponderExcluir:D
ExcluirAcho que por conhecer pai e filho acabei lendo o texto de uma forma bem personificada e reconhecendo alguns exemplos =)
ResponderExcluirFeliz por ter indicado a pessoa certa para o blog!
Abraço!
Um filho é seu coração batendo fora do corpo. ..Pequeno William, meu amor INCONDICIONAL.
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