Dia desses recebo um sms: "É assim que as pessoas vivem? É assim pro resto da vida?". Eram 10 horas da manhã de uma quarta-feira comum. A mensagem, referia-se à correria imposta na vida da metrópole.
É assim mesmo, triste, né? respondi. Vida paulistana que na demanda insere uma ansiedade, uma agitação, um pai na forca, uma sangria desatada. E sem perceber, é assim que vão vivendo, correndo, se perdendo.
Em São Paulo a gente corre pra não perder o ônibus, corre pra entrar no vagão, corre pra pegar a vaga primeiro, corre pra dar tempo de fazer a unha e ir ao banco na hora do almoço, corre na escada rolante (do shopping!), e come correndo, anda correndo, chega em casa e continua a correr: pra dar conta do jantar, das roupas pra passar, a louça pra lavar, e ainda arranja tempo pra olhar o Facebook mais uma vez antes de dormir, assistir o futebol e quem sabe um filme, ou o primeiro bloco do último jornal. Daí coloca o celular pra despertar e tudo começar novamente.
É impaciência pra esperar o farol fechar, o café ficar pronto, o casal de idosos passar a catraca, o telefonema que não é retornado, o email que não chega, seu chefe que se atrasa, seu amigo que esqueceu do bar e avisa pra esperar mais 40 minutinhos.
Pichada na parede de uma loja, numa das avenidas mais movimentadas do Butantã, eis: "Se o seu trabalho é uma merda, pra quê a pressa?". Sempre que leio, além da risada que me escapa, penso: taí uma verdade. Pra quê a pressa? Essa gente correndo todo dia é pra quê, por quê? Pra bater ponto no trabalho e não ser descontado do salário? E aí senta na mesa, aquela velha mesa com calendário e telefone, e começa a reclamar da vida. Correndo pra assinar contratos, quem sabe. E sair satisfeito em busca de mais algum contato, um almoço de negócios em que olhos mal se cruzam, mas a caneta e o papel estão ali firmes e fortes para serem preenchidos. Correr pra não perder a hora da aula, entrar na sala e ficar papeando com a galera sem nem ao menos saber do que se trata a matéria.
Quando meu pai sofreu um AVC no meio da madrugada e eu, sem saber dirigir, tive que ligar para os bombeiros, depois ligar para o Samu, passar endereço, telefone, CEP E ponto de referência, E ainda esperá-los chegar, tive a consciência do que é um real motivo que exigia a pressa. Era questão de saúde e vida. Depois que o susto passou, eu que sou acelerada ao extremo, passei a reavaliar minhas correrias.
Não corro atras do ônibus se não houver uma reunião ou alguém me esperando. Cinco minutos de atraso não implicarão para que o restante do dia (e meu trabalho) se desenrolem bem. Saboreio o café até o último gole, durmo até o despertador tocar (e às vezes um pouco mais).
Correr mesmo, só pro que é necessário: a vida que chama lá fora com sol e céu azul, a amiga que espera com a cerveja na geladeira, o filme que vai começar, correr pra abraçar quem se ama, correr pra tomar banho quente num dia frio. O mundo não vai acabar amanhã, viver com pressa e sem sentido desgasta, além de tirar o tom suave que a vida pode (e deve!) ter.
Esse post tinha que ser impresso e espalhado pela cidade!
ResponderExcluirAinda bem que li sem pressa de chegar ao fim... o problema é que agora estou com pressa pelo próximo... Ô, vida!
Frase de caminhão "Quem corre nessa vida, chega adiantado na outra". Trato meu trabalho com a seriedade que ele merece, nada a mais que isso. Aqui na repartição, muitos tratam os processos como pessoa e as pessoas como processo.
ResponderExcluirÉ tão irônico ler esta frase do Risa no exato momento em que ele está correndo feito um condenado pra resolver seus processos, às 17h55 de uma sexta-feira... rsrsrs
ResponderExcluirE quem disse que dá para parar de correr? Não dá..
ResponderExcluirnão tem pressa, não, reprissa, repite o gesto, repito, repressa, nadando sem pressa na lagoa, sem prosa, nem russas que alimentem esta ruleta, cutuca, retranca, balança, remexendo, remoendo, remelexo... pressa só para aquilo que realmente queremos, e quero, quero!
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