Levantou e percebeu que era mais um dia para lidar com aquela estranha sensação e tão indesejada realidade.
Resolvera juntar os pedacinhos do seu coração, que havia guardado do lado esquerdo daquele paletó azul-escuro que havia lhe dado no aniversário do ano anterior.
Era difícil aceitar que ela não ligaria mais, que não ouviria mais aquele sorriso ao telefone.
Aquele sorriso que, emitido som, o fazia visualizar aqueles lábios... Aqueles dentes... Aquele olhar...
"- Não!" - Gritou ele, se afastando do guarda-roupa.
Resolveu então ligar seu computador e deixar que o shuffle resolvesse o quê rolaria para ouvir!
Ironia do destino. A música que os dois adoravam ouvir.
Clichês à parte, decidiu não lutar contra aquela tristeza que teimava invadir sua alma.
Entregou-se aos prantos. Chorava alto. Berrava até.
Tinha esperança de que pelo menos os soluços o som da música abafasse.
Mas se não abafasse também, quem se importaria?
Ninguém ligava.
"Ninguém liga pra ninguém!" - Pensava consigo mesmo.
Já tava entregue ao martírio mesmo! Por quê não sofrer mais um pouco?
Tirou uma peça de roupa qualquer, que pertencia à ela.
Uma blusa vermelha que havia dado de presente de formatura, e que estava ali havia tempos, há muito esquecida.
O perfume! Aaaah... O perfume...
Não sabia o quê fazer com tantas lembranças.
Tantas memórias... Memórias essas que o alegraram durante tanto tempo, e que agora, a cada vez que vinham, se comparavam a marteladas no dedinho do pé...
Não sabia que horas eram.
Já havia perdido a hora para o trabalho.
Não se importou com isso também.
Tirou aquele dia pra ele.
No fundo no fundo, sabia que daquilo não passaria.
Ou assumia de vez as rédeas da sua vida, ou viveria se importando com a vida de alguém que nem sabia mais que ele existia.
O som parou. A música acabou.
Havia selecionado o modo randômico, mas na pasta que levava o nome dela, e sem ativar o repeat.
Diminuiu então o volume do choro. O esforço pra parar o soluço foi grande, mas conseguiu.
Olhou para a porta, com uma esperança vinda não sabia de onde, de que ela entrasse, com os olhos cuidadosos com os quais tantas vezes havia olhado para ele, fazendo o sentir a pele macia de suas mãos sobre suas pálpebras, acalentando as lágrimas que muitas vezes teimavam em escorrer.
Mas nada.
Só o silêncio no apartamento 14.
E como criança que fica de castigo, num cantinho do quarto, resolveu se entregar à melancolia.
Ninguém viria mesmo em seu socorro.
No chão, o coração, esmiuçado em diversos pedaços.
Caquinhos de lembranças. Pedaços de memórias.
Jamais voltariam a ser como antes.
Porque a responsável pelas mesmas, resolveu viver uma vida, longe da vida dele.
Coisas da vida.
De quem vive.
E de quem morre também.
Um pouquinho a cada dia.
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