terça-feira, 4 de março de 2014

De mim pra mim, ou: dez anos ensinam muita coisa.

Esses dias, vi no Facebook uma proposta que me deixou super animado, e nenhum espaço melhor que este para eu usar: escrever uma carta para o Emanuel de dez anos atrás. Levando em conta que eu tenho o meu diário de 1999 até 2009, acho, fica fácil eu meio que lembrar como eu pensava na época. Mesmo porque, a gente tende a tingir de cor diferente as nossas lembranças, de acordo com o nosso presente. Se o presente é bom, o passado é uma merda. Se o presente é ruim, o passado foi maravilhoso. É um jeito bonito, mas pouco aplicável, de enfrentarmos a realidade de que cada dia a mais, é um dia a menos.
E vice versa.
Como estou próximo de completar vinte e nove anos, já sinto os primeiros influxos daquilo que é chamado o Retorno de Saturno. Um momento na vida da gente em que já passamos por quase todas as experiências possíveis e agora passamos a escolher direito o que queremos passar (ok, ok, nem sempre, não para todo mundo, mas aí é de cada um, né?) Então, ando muito pensativo sobre o que andei fazendo da minha vida nesses anos. Diante disso, resolvi escrever a carta para o Emanuel de dezoito anos, que estava terminando o ensino médio e trabalhava num supermercado.
E tinha um baralho para chamar de seu, mas era um só.



Ow Emanuel, tudo bom?
Contar um negócio pra você: eu sei que nesse momento da tua vida você tá achando que tá tudo dando errado. Você acabou de desistir da vida, mais uma vez, mas, olha, não é agora que você vai morrer não. Então é melhor começar a se acostumar com isso.
Levando em conta esse detalhe, lembre-se: cada dia bem vivido é um dia a mais. Cada dia mal vivido é um dia a menos. E cada dia, enfim, a vida passa. Que a sua passe a mais. Na verdade, RS, eu sei que vai ser assim, então, na boa, fica na boa.
A vida não é só livros, cara. Vá viver um pouco. Vai ser bom pra você. 
Falando em viver, por favor, nada de usar gel no cabelo. Use creme para pentear. E manere nos alisamentos. Você vai sentir a diferença quando teu cabelo crescer. Vai por mim, você vai ter o cabelo para baixo dos ombros, e será seu. Terão inventado uma tal de escova progressiva, que é tipo rock progressivo, só fica melhor com o tempo. 
Não leve seu trabalho tão a sério. Ou melhor: não leve as pessoas do seu trabalho tão a sério. Você vai ver, daqui a alguns anos, que tudo isso é tão passageiro que nem vale a pena ficar esquentando a cabeça e derretendo o estômago.
A tua namorada vai separar de ti, casar, ter filhos, separar do marido e vir conversar com você. Espero que você tenha vergonha nessa tua cara. Na verdade, você tem.
Você tá pensando em fazer Psicologia, mas vai fazer História. E vai conhecer pessoas maravilhosas, numa cidade que hoje você nem faz ideia que exista. Ah, e isso devido a um cursinho no qual você conseguiu bolsa integral, parabéns. Mas lembre-se do que disse sobre livros não serem tudo na vida.
Você acha que sabe muita coisa da vida? Vai descobrir que não sabe quando arrebentar a cabeça na escada da tua casa e tomar seis pontos. E depois, você vai arrebentar a cara de novo, quebrar um dente, de puro cansaço.
Você vai a São Luis do Maranhão. De ônibus. Acredite, uma vez para nunca mais. Mas vai morrer de saudades do arroz de cuxá.
Esse teus 59 kg em 1,79m  se transformarão em 78kg de massa (quase) magra [tem uma pochetinha aí, mas vai sair com fé]. Continue malhando.
...E você vai voltar a fazer Karatê, chegar na faixa verde e parar por um tempo, de novo.
Ah, teu problema de visão não é astigmatismo, é ceratocone. Vai num outro oftalmo que esse que tá cuidando de ti é uma merda.
Você vai descobrir que sexo não tem nada a ver com filmes de amor. É a coisa mais boba do mundo. E assim como gelly bears e tic tacs, você vai perceber que coisas bobas são viciantes.
Você terá vários apagões de vodka. Divirta-se.
Um dos teus melhores amigos será um cara absolutamente oposto a você. E vai ser engraçado perceber o quanto vocês se gostam, sendo tão diferentes.
NUNCA aceite uma cantada virtual. NUNCA.
Você vai conhecer psicopatas que fazem isso. E é bom que você os mande para o inferno, cedo.
Preserve seu dinheiro. Eu sei que você gosta de glamour, mas vai gostar mais ainda de Paris. 

É isso, meu fio. Segue teu rumo porque, quando você chegar à minha idade, terá um cabelo longo, como sempre quis, o corpo que imaginava querer, estará trabalhando e solteiro, depois de dois anos de namoro. E terá toda uma vida pela frente, uma vida que vale a pena.

4 comentários:

  1. adorei! parece que foi pra mim.haha (:

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  2. nossa, sem palavras, Manu! vou tomar coragem e escrever uma pra mim. um dia.

    saudade!

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    1. Escreve, escreve sim. Você não tem ideia de como isso liberta a gente.

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