domingo, 20 de abril de 2014

A impunidade passeia de helicóptero

Como medir o impacto de quase meia tonelada de cocaína na sociedade? Difícil ter uma noção exata com tantas variações, mas comecei a fazer uma pesquisa informal para ter pelo menos uma ideia.

Tudo começou com a apreensão de um helicóptero carregado com 445 kg da droga, no Espírito Santo. Essa quantidade, que já não é pouca, na verdade é de pasta base, a partir da qual se obtém o pó que será vendido.

Cruzando algumas informações podemos ver que a pasta pode render dez vezes seu volume, depois de refinada. Com isso a carga do helicóptero viraria 4.450 kg de cocaína pura. Dá para tentar transformar isso em valores.

O preço final varia muito. Pura, a droga pode chegar a 50 reais o grama (para comparação, a cotação do ouro está em 93 reais o grama). A estimativa é que a pasta apreendida renderia R$22,25 milhões. É muito, mas raramente a cocaína é vendida pura. O mais comum é que seja batizada, baixando a qualidade mais que o preço.

Com essa pesquisa informal cruzando dados não dá para saber qual seria o resultado final da cocaína encontrada no helicóptero. Há uma infinidade de níveis de pureza e por consequência de preços. Mas supondo que o produto final mantivesse certo grau de pureza, renderia pelo menos uns 50 milhões de reais.

É muito se pensarmos apenas no valor numérico, mas é pouco comparado ao impacto social que tudo isso pode causar. A quantidade de sangue por trás dessa cifra é imensurável, a quantidade de crianças que crescem em meio a traficantes armados, que posteriormente serão recrutadas pelo tráfico, para que os donos dessa pasta básica de cocaína apreendida tenham uma vida de luxo é incalculável.

Mesmo esquecendo os impactos sociais e nos atendo ao custo econômico que se desdobra a partir do cume da pirâmide do tráfico, o dinheiro destinado às clinicas para o tratamento de dependentes, aos hospitais que tratam vítimas diretas e indiretas do tráfico e as operações policiais, que mesmo sem o tradicional suborno, movimentam muito dinheiro.

Em geral as pessoas tendem a olhar para os problemas sociais como pontuais, remediando muito mais do que prevenindo. Tem tráfico de drogas? Prende o traficante (ou mate). Tem usuário? Prende. Têm policiais aceitando propina? Prende.

A particularidade deste caso da pasta base de cocaína é que todos sabem de quem é o helicóptero, de onde ele veio e para onde ele ia. Já a cocaína, ninguém sabe de quem é, tanto que ninguém foi preso. Até mesmo piloto e co-piloto, que poderiam levar a culpa, já estão em liberdade. Provavelmente o silêncio de ambos foi recompensado com a liberdade. Será que se a droga estivesse relacionada a alguém filiado a outro partido a repercussão não seria um pouco maior?


3 comentários:

  1. E é por isso que eu digo que falar disso é tão importante quanto falar da crise da Petrobrás... Muito boa sua pesquisa informal!

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  2. Eu devia ter feito a relação com a Petrobras de forma mais direta, mas sabe como é escrever no domingo de Páscoa, com feriado prolongado e tudo mais, né?

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  3. Ual! Já pode se tornar o burocrata do tráfico! :-P

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