De vez em
quando eu sumo e alguém me pergunta ''por que você sumiu?''.
Não sei o
que dizer. Queria ter boas explicações, dizer que estava do outro lado do mundo,
no gelo, estudando focas ou talvez em algum país perdido trabalhando de
voluntária. Mas meus sumiços não têm motivos nobres nem humanitários, eu sumo
porque a cidade na qual moro, São Paulo, me engole e levo tempo para voltar a
superfície. Me perco nas beiradas da existência urbana e acabo sumindo, mas
estou ali como todo mundo, no panorama onde todos os rostos são iguais.
Meu sumiço é
tão comum que todos os dias tenho a mesma rotina e mesmo assim consigo
desaparecer nela, como se eu não passasse por essa ponte.
Talvez isso
aconteça porque nunca me achei aqui e acabo sumindo no desenho da cidade, como
se ela não absorvesse minha vida, parece que não existo neste chão cinza, fico invisível
para todos. Dura uns dias, semanas, meses e anos, mas eu volto a aparecer como
se nada tivesse acontecido. Em uma cidade maluca e sem tempo posso mandar um ''oi'' sem data, todos os ''oi'' são iguais para quem mora aqui. Desconfio que não sou
a única a desaparecer na rotina e sumir no cinza da cidade, a frequência de pessoas
que saem do meu radar é tão grande que parece ser uma cidade de ''sumidos''.
Eu sumi, mas
já apareci novamente. Só não sei por quanto tempo.
Que delícia de texto!
ResponderExcluirPode sumir sim!
Contanto que volte...!