Uma das coisas que mais chama minha atenção em relação
ao comportamento das crianças é o imediatismo de suas ações, que anula as
relações de causa e efeito. Quanto menores mais claro é esse comportamento. Se
querem algo o mundo ao redor parece sumir, daí a importância de alguém por
perto para evitar uma tentativa súbita de cruzar uma rua movimentada, jogar um
objeto frágil no chão em troca de um brinquedinho de plástico ou escalar uma
cristaleira para tentar pegar uma borboleta.
Outra curiosidade no comportamento dos pequenos é a
sede de vingança contra os objetos inanimados. Um leve descuido é suficiente
para toparem com uma cadeira e começarem um choro, mais de indignação do que de
dor. Basta um adulto dar um tabefe na cadeira, seguido de uma bronca, para que
a criança manhosa pare de chorar e esboce um sorriso de vingança.
Quando crescemos costumamos melhorar um pouco o senso
de causa e consequência. Sem dúvida algumas vezes a desatenção se sobressai e
fazemos alguma coisa estúpida, mas ao menos em situações cotidianas conseguimos
nos virar sem o auxílio de uma babá depois de adultos, ou pelo menos a maioria
de nós consegue.
Se o dedo mindinho vai de encontro ao pé da mesa o
palavrão subsequente, dito ou pensado, surge para alívio psicológico. No máximo
xingamos o objeto inanimado numa tentativa de aliviar a culpa que no fundo
sabemos que não pertence ao alvo das blasfêmias.
Em situações que se espalham por um período mais longo
parece que seguimos com a dificuldade de enxergar o todo. Felizmente nesses
casos a ação individual costuma ser muito restrita. Não é como um descuido do
pai, permitindo que a criança atravesse a rua correndo.
Independente da força da ação de cada um, as redes
sociais deram notoriedade para essas características. Antes nossos deslizes
ficavam mais restritos, agora aquele amigo reacionário do serviço comenta no
post do amigo neo-hippie da faculdade, que choca os padrões morais da tia-avó,
que posta as fofocas da família na sua time-line, sem saber que o conteúdo
é aberto para todo mundo ler.
Há quem diga que as coisas vêm piorando. Pessoalmente
simpatizo mais com a ideia de escala. Se antes, quando topávamos com uma
cadeira, apenas os adultos próximos viam que ficávamos satisfeitos com a bronca
naquela malvada que acertou nossa testa, hoje fazemos questão de expor nossa
sede de vingança, nossa satisfação quando a cadeira leva bronca e nosso
imediatismo.
Dizer para uma pessoinha que com um esforço homérico
consegue dar os primeiros passos que ela ainda tem que desviar dos obstáculos
seria muita pretensão. É difícil, complicado, chato. Melhor dar um tabefe na
cadeira e isentar a criança de culpa.
E como dizer para uma pessoa recém-imersa na tendenciosa
e superficial discussão política, que a violência endêmica tem raízes
históricas e sua prevenção é complexa, porém mais eficiente que o combate com
mais violência? Mais fácil pedir a redução da maioridade penal – tão eficiente
quanto um tabefe na cadeira. Não obstante, quando é que essa pessoa vai crescer
e aprender a desviar dos obstáculos?
Esperar que uma criança que mal consegue levar a
chupeta à boca – não deem uma chupeta para uma criança, é só uma ilustração –
tenha a consciência de que primeiro deve por o objeto que carrega em um local
seguro para depois segurar alguma outra coisa, é esperar demais de um
raciocínio em desenvolvimento.
E esperar que um adulto que restringe sua participação
política ao voto bienal, por mera e amaldiçoada obrigação, se disponha a seguir
o fio da meada do emaranhado formado pela corrupção secular do país, seria
esperar demais de uma democracia reumática, apesar de jovem. Coloque a culpa
toda em um dos partidos, se for muito amplo, em um dos políticos; soltamos um
fardo de problemas que se espatifa espalhando cacos e seguramos o bastião da
vitória – de plástico, made in China.
Ao contrário da criança que tem muito tempo para
aprender a manipular objetos, nossos problemas sociais já tiveram seu tempo.
Não faltam ardilosos que visam impor seus próprios interesses em detrimento do
bem estar social.
A culpa é do PT, é lógico! :P
ResponderExcluirConfesso que a música foi inspirada em um post de uma fan page que eu sigo...
ExcluirNossa... essa fun page deve ser ótima!
Excluira culpa é do PT (x2)!!!
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