Aleksis parecia uma pantera
negra. Seus olhos eram de um amarelo ocre penetrante que pareciam ter o poder
de desvendar os pensamentos mais submersos. Seus companheiros evitavam olhá-lo
diretamente, afinal, nem tudo deve ser compartilhado. Era um dos homens mais
condecorados de Olegiev. Respeitado e temido, nunca hesitava. Exceto naquele
dia.
Sem ser descoberto, Aleksis
praticava truques de mágica toda noite. Era um sonho que alimentava desde a
infância: ser mágico. Entretanto, as adversidades da vida, a tradição familiar e
o fato de ser filho único o fizeram integrar a Patrulha Inter-Lumis, assim como
sua mãe, sua avó e sua tataravó. Sim, a sua linhagem na Inter-Lumis foi, até
2005 da dimensão 7, portaria 14, feita de mulheres. Voltemos aos fatos que
antecederam àquele momento.
Aleksis praticava truques de
mágica em um depósito de armas obsoletas. Ali era um local que jamais seria
procurado. Seus colegas de trabalho eram high-tec demais para se debruçarem
sobre o pretérito. Cada noite se entregava a um truque diferente: cartas, panos
coloridos, coelho na cartola, pomba no paletó. Naquela noite tentou, pela
primeira vez, um truque de adivinhação através de uma bola de acrílico que se
passava por uma bola de cristal. Ideia ridícula, uma vez que não havia mais
ninguém ali e, portanto, nada a ser adivinhado. Como pouco lhe importava a
racionalidade das coisas quando estava em seu universo particular, inventou que
uma bela moça da plateia do Teatro Odeon havia se oferecido para participar
daquele número.
Não possuía muito contato com
mulheres, a não ser as de sua família. Ao passar pelos corredores da Sede
semanas antes, escutou Olegiev fazer referência a uma “Natasha”. Havia
aprendido na escola russa que Natasha era um diminutivo de Natalya e
significava “dia do nascimento de Cristo”. Lembrou-se disso rapidamente na
ânsia de atribuir logo um nome à moça imaginária.
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