segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Soluções Práticas - Parte 15


Bateu a mão no criado mudo à procura do telefone. Um copo de vidro se estatelou no chão, ao lado de uma garrafa de vodka vazia, que estava caída ao lado da cama. Na segunda mãozada, o cinzeiro lotado de bitucas e cinzas também foi ao chão. Ignorando a bagunça, Natasha tateou até o telefone. Colocou-o no ouvido ainda sem ter certeza se já estava acordada. Uma voz masculina do outro lado disse-lhe:
- Ligue a televisão no canal 5. Agora.
Levantou-se da cama tentando evitar os cacos de vidro. O cheiro de vodka e de cigarro no ar fez seu estômago revirar. Não sabia se estava com fome ou se queria vomitar. Ainda seminua, ligou a televisão e ficou ali, em pé, olhando para a tela como se fosse um zumbi.
Uma repórter de cabelos loiros por volta dos seus 40 anos, de feições sisudas e quase sem sobrancelhas, dava a notícia em tom desesperador:
- Já são mais de cem as cidades na Rússia atingidas por uma entidade ainda desconhecida. Em Moscou, moradores afiram que tudo começou com uma infestação inexplicável de pelos e cabelos aparecendo em suas residências, vindos do que disseram ser explosões de luz. A cidade declarou estado de calamidade pública até que se entenda o que está acontecendo. Somente na capital, mais de trezentas mortes por asfixia foram confirmadas e cerca de outras três mil pessoas esperam atendimento médico, pois com tanta coceira, começaram a se automutilar.
A câmera muda para um homem mais velho, careca, vestindo um terno azul marinho com gravata amarela. Continuou a dar as notícias em tom de desastre e comoção:
- Acabamos de receber novas informações do gabinete do Estado. Atenção! Fiquem em suas casas e permaneçam em locais sem janelas! Parece que monstros de pelo estão causando destruição nas ruas das principais cidades de todo o mundo! Fiquem em suas casas!
De repente, um estrondo e todos os aparelhos elétricos da casa se desligam.

...

A alguns quilômetros dali, um ponto de consciência experimentava, pela primeira vez, a sensação de existir. Não entendia muito bem aquela voz conversando consigo mesmo e não entendia o que via ao seu redor.
- Quem sou eu? Onde estou? Qual a minha razão de ser? Por que eu sinto essa sensação de algo, digamos assim, de algo “coçando” em todo o meu ser? Em toda a minha existência? Por que eu sou tão escuro comparado aquelas pequenas existências abaixo de mim? O que são esses caixotes enormes, cheios de, vou chamar de... pessoas? Por que aquela massa gigantesca de coisa acima de mim é tão suave, e tão... azul?

...

Era o primeiro dia na nova divisão e Vassili já tinha que combater um monstro gigante. Coisa de filme!
- O alvo está a caminho! Alinhem-se e não atirem até eu dar as ordens, gritou o tenente-coronel de sua infantaria.

O soldado estava nervoso, mas duvidava do relato exagerado de seu tenente-coronel. “Não existem monstros! Deve ser algum ataque terrorista”, pensou Vassili, com um crescente frio na barriga.
Em questão de segundos o chão começou a tremer e o silêncio tomou conta da tropa. Civis corriam desesperados pelas ruas, buscando abrigos em cafeterias e no comércio local. Um vento forte trouxe consigo uma enorme quantidade de pelos, que começou a grudar nos rostos, nas armas, nos vidros e em toda e qualquer superfície.
Vassili sentiu a garganta coçar e começou a tossir. Ouviu uma ordem rouca:
- Atirem, atirem agora!
Sem saber para onde mirar, começou a disparar sua AK-74M. O caos era total. Gritos, tosses, barulho de pessoas sufocando, armas disparando. Assim que conseguiu se livrar dos pelos para botar os olhos no tal monstro, foi que ele pode ver claramente o que enfrentavam e o quão ineficiente eram.
- É um monstro de pelos! Gritou Vassili, na esperança de que alguém também estivesse pensando o que estava pensando, e saiu correndo para dentro do primeiro Starbucks que viu.




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