Trabalhar no Aeroporto Internacional de Guarulhos ampliou minha visão em relação ao mundo e pessoas. A política é a lei. A diplomacia impera.
Até o mundo lá fora é desta maneira, por que seria diferente ali dentro?
No começo, chorava quando embarcava o voo para o Japão. Passageiros que não ligavam se sentariam no meio, no fundo do avião, ao lado de uma criança chorona. Não fazia diferença. Não voltariam antes de três ou quatro anos. Estavam em busca de uma vida melhor. O olhar de triste de cada um firmava na minha mente desde a entrada do embarque internacional quando despediam-se das famílias. Ficava comovida com várias historias.
O meu trabalho tornou-se mecânico e passei a não dar bola quando dizia a alguém que havia perdido seu voo e seguiria apenas no dia seguinte. Nada de aniversário da filha, casamento do sobrinho, velório do amigo...
Eu fiz o meu trabalho.
De certo modo, o coração apertava quando fechava portas do avião que seguiria para New York. Eu sabia que muitas pessoas estariam perto da Bia, uma amiga que faz uma falta danada. Do voo para Miami, eu lembrava da minha amiga falecida e até no complicado voo para Frankfurt, eu prestava atenção nos passageiros que viajariam até Berlin. Será que algum deles encontraria minha amiga no supermercado? No parque?
Já tive vontade de colocar o passaporte no bolso e me esconder dentro dos aviões para Londres e Paris. Só para ter a chance de pisar num dos lugares que sonhava conhecer e posteriormente, consegui.
Ja desejei Boa Sorte! a passageiros que fariam o Caminho de Santiago. E voltando ao voo de New York, gostaria de ter abraçado os passageiros na semana do atentado às Torres Gêmeas, apenas pra confortar a angústia e incerteza do que vinha pela frente. Parentes, namorados, amigos vivos ou mortos.
Comecei a acreditar em destino e sinais quando um passageiro vibrou com um voo cancelado para Lisboa. Ele, que deixara sua noiva para trabalhar, não estava tão certo da sua escolha. Resolveu arriscar a sorte. Se tudo corresse bem, embarcaria. Caso o voo desse algum problema, cancelaria a viagem e recomeçaria a vida aqui. E não é que dizem que há males que vem para o bem?
Encontrei pessoas que xingaram até minha quinta geração. Encontrei passageiros que me agradeceram por algo que não foi além da minha obrigação.
Escutei conselhos de uma senhora que percebeu o meu rosto desanimado num certo dia. Tive a chance de conhecer alguns ídolos do cinema e da música.
Reclamava da correria e estresse, mas sinto falta do lugar que me trouxe tantas vivências.
De vez em quando, lembro com sorriso do...
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