quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Silêncio

Eu moro em São Paulo, a terra da garoa.
Há dois dias caiu uma chuva enorme, dizem que a última vez que choveu assim foi há trinta anos.
Tudo ficou debaixo da água. Tudo. Casas, carros, comércios.

Fiquei impressionada com o volume de água, mas nada me impressionou mais do que o silêncio das autoridades. O silêncio mortal do poder público. Nem ambulância escutei, depois fiquei sabendo que a central do SAMU, das ambulâncias, estava ilhada. Quem ajuda precisou de ajuda, mas não teve. Ficou ali isolada, com os funcionários lá dentro.

Não foi uma casa que se perdeu com a enchente, foram muitas. Até a Ceagesp, a central de alimentos, viu a água subir e assim sete toneladas de alimentos foram descartadas.
E o governador? Em Dubai, dizendo que estava trazendo novos negócios para a cidade. O prefeito? Disse que tudo o que era possível estava sendo feito.

Ninguém no governo pareceu se importar com o custo de uma enchente, seja de vidas, seja o custo econômico. São Paulo é um trem, precisa estar todo o tempo em movimento. 
Ver uma cidade parar e se afundar diante do silêncio de todos seus governantes me faz pensar que as pessoas que governam a cidade estão preocupadas com seu salário, seu dinheiro, não se sentem obrigados a trabalhar.

Água é uma manifestação barulhenta da natureza. Mas em São Paulo ela caiu em silêncio. Foi a noite mais quieta da cidade, debaixo da água, abandonada por todos.


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