quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Tucanistão

Já disse Ciro Gomes, "a democracia é uma delícia (...) mas ela tem certos custos". Em São Paulo o maior custo é a falta de alternância de poder, gerada pela insistência da população em eleger o mesmo partido. Desde a última eleição para a prefeitura da capital, a população vem sentindo o peso dessa dominância.

O PSDB chegou ao poder em 1995 e desde então só não governou em dois períodos de dois anos, quando o vice-governador de outro partido assumiu o mandato, após Geraldo Alckmin abandonar o cargo.

 Atualmente o governo é de João Doria, que desde 2016, quando entrou para a política, afirma não ser político, mas gestor. Talvez por ter cara de playboy e usar roupas caras ninguém aponte a mediocridade de sua gestão, desde a breve passagem pela prefeitura de São Paulo, quando garantiu não abandonar o cargo para concorrer ao governo, até a atual gestão do governo, que assumiu após abandonar a prefeitura.

Na cidade de São Paulo, após ser prefeito João Doria perdeu a eleição para governador. O cargo só foi garantido pelos votos do interior do estado. Talvez por isso permaneceu distante de toda a campanha que elegeu Bruno Covas para a prefeitura. Doria só apareceu após a vitória ser anunciada, com todo o marketing que costuma rondar suas ações.

Com o governo e a prefeitura da capital garantidos o PSDB vem mostrando desde novembro a qualidade da gestão de quem quer ser visto como uma ‘direita moderada’, visando as eleições presidenciais de 2022.

No dia seguinte ao segundo turno das eleições para a prefeitura o governador anunciou medidas mais duras para o combate à Covid-19, que eram extremamente necessárias, mas negadas ao longo de toda a campanha. Na linha das medidas impopulares, dois dias após as eleições, sem muito alarde da mídia, o governo aumentou as tarifas de pedágio de todo o estado.

Já em dezembro, Bruno Covas, que cumpriu apenas 41% das metas de seu governo, sancionou o aumento de 46% no próprio salário, que passa de 24 mil para mais de 35 mil reais. Na mesma época João Doria decretou que todo o estado de São Paulo passaria o fim de semana de Natal e Ano Novo na fase vermelha, em uma tentativa de barrar os casos de Covid-19, que já vinham aumentando assustadoramente. Logo em seguida o governador viajou para Miami.

É evidente que políticos tem direito a férias e descanso, mas em um momento em que as contaminações já estavam em forte ascensão e havia uma preocupação em conscientizar a população sobre a importância de ficar em casa, o governador resolve pegar um avião e viajar.

Não contentes em aumentar o próprio salário em plena crise econômica ou viajar após decretar endurecimento da quarentena, os governantes do PSDB iniciaram o ano anunciando fim da isenção de ICMS no setor da saúde, com grande impacto em materiais hospitalares e medicamentos. O sindicato do setor precisou mover uma ação para barrar o fim da isenção de tarifa na justiça.

Em meio a tanta turbulência causada pela pandemia e com um presidente que sobrevive pelas confusões que cria, tantos escândalos estatais acabam logo atropelados por novas loucuras. Isso somado à devoção paulista pelos tucanos garante vida longa ao partido que vive da aparência, mas não entrega à população as belas cidades exibidas na propaganda eleitoral.

Quando comparado ao presidente, João Doria chega a parecer sensato quando faz o básico, como investir em vacinas para conter a pandemia. O marketing pessoal em torno da Coronavac foi parecido com a prefeitura de São Paulo, quando o governador só apareceu na festa da vitória.

Doria fez grande estardalhaço, misturando eficiência e eficácia para divulgar que a vacina tem de 78 a 100% de eficiência. Um carnaval midiático para depois se esconder e não participar da divulgação de eficácia da vacina, de 50,38%. A vacina não é ruim, mas a luxúria tucana deve sustentar a fama de bom gestor a qualquer custo e preferiu confundir os conceitos para abafar a eficácia mais baixa que outras vacinas.

Já em campanha para a presidência em 2022, João Doria afirma estar do lado da ciência. Mesmo após tentar cortar quase meio bilhão de verba para a Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – em plena pandemia.

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