O Livro Prólogo (Rascunho)
Deus nunca foi um conceito fácil de engolir. Não pra mim. Mas, apesar de todo o meu ceticismo, Ele esteve presente em dois momentos fundamentais da minha vida: quando eu conheci Luana e no dia em que ela caiu naquilo que chamam de forma lúdica e pouco precisa de sono profundo.
Desde que Luana entrou em coma, minhas conversas com Aquele de quem nunca precisei (ou acreditei) têm sido mais constantes. Falo amenidades, pergunto do tempo, conto piadas e rogo por um pequeno gesto. Coisinha à toa pra quem, dizem por aí, criou toda essa “bagaça”.
Até agora nada. Vai ver Ele anda ocupado com bombas nucleares, nevascas, enchentes, terremotos e deslizamentos de terra. Ou, e essa hipótese me irrita muito, Ele prefere não interferir, seguir alguma espécie de burocracia divina e, simplesmente, deixar rolar.
Os médicos, que já me chamam pelo nome, sentem pena da minha devoção. Para eles, sou um clown do desespero. Vez ou outra, fazem aquela cara de gravidade e, cuidadosamente, me lembram que o caso dela é ...
“Irreversível” é a palavra mais dura que eu conheço. Não sei lidar com coisas que não podem ser revertidas, mudadas, consertadas ou remendadas.
Aos doutores, eu respondo que irreversível é o meu amor. Irreversível eram os nossos planos. Irreversível era a o jeito que ela arrumava o cabelo. Irreversível era a maneira como ela conseguia iluminar tudo ao seu redor. Irreversível era o som de sua voz me chamando para deitar. Irreversível é o cheiro dela em mim.
Também não gosto quando dizem que Luana está em estado vegetativo. Toda vez que olho pra ela, vejo uma flor. Luana é um rosa branca.
Por que continuo sentado ao lado da cama dela? Porque quero ser a primeira coisa que ela vai ver quando abrir os olhos. Se Deus pode reverter o irreversível. Eu posso esperar.
Acho que o tempo vai passar mais rápido enquanto eu conto a nossa história para vocês. Espero que me ajude. E que ajude mais alguém também. Sei que Luana ainda vai ler esse livro. Assim como você está fazendo agora.
Lúcio.
A Vida
Eu não te odeio Luana. Quero que saiba que 10 % de tudo que eu ganhar com as vendas deste livro será revertido para sua família - exceto, e isso é só um detalhe legal, o que for arrecadado com a venda dos direitos para o cinema.
Tá me ouvindo? Pra onde vão as pessoas em coma? Será uma espécie de limbo, sala de espera de dentista, fila de posto de atendimento da Receita Federal... Espero que, quando desligarem os aparelhos, você não fique muito chateada e resolva me assombrar.
Mas essa história é nossa. Portanto, também é minha. Se eu vou mentir um pouco? Claro que vou. Mas pode ficar sossegada. Vou te fazer uma pessoa melhor, quase uma santa. Qual atriz você quer que te interprete no cinema? Eu apostaria em Mariana Ximenes.
Quando o acidente aconteceu, nós já não estávamos namorando. Mais do que isso, não nos suportávamos. Você já saia com aquele professor de Ioga, lembra? Ah, eu também estava dando minhas escapadinhas por aí.
O que não quer dizer que eu tenha ficado feliz com o seu coma. Não sou um monstro. Chorei, honestamente, durante um mês. Agora, nossos amigos e familiares, que não sabem do nosso relacionamento infernal, me tratam com zelo. Sou um Romeu que preferiu não tomar veneno, mas que ainda espera sua Julieta abrir os olhos antes da primavera.
Pena que é “irreversível”. Acho que o livro vai chamar Amor Imortal. Nome brega, mas vendedor.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Lição 1: como escrever um best-seller?
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q post lindo gilberto! meus parabéns! esta história é real mesmo?
ResponderExcluirbjs.
Seu bobo, me fez chorar
ResponderExcluircomo assim me fez chorar?
ResponderExcluirmaior do mal!
Questão interessantíssima... Quem larga uma pessoa em coma ou tetraplégica ou com algum tipo de deficiência pode ser considerado um escroto sem coração??? Eu não acho....
ResponderExcluirMuito interessante!
ResponderExcluircomo assim me fez chorar?
ResponderExcluirmaior do mal! [2]