Em fevereiro comemoro um ano de aventuras culinárias. Não, eu não sei cozinhar. Estou em fase (ainda) de aprendizagem. Árdua confesso, difícil admito, sofrida, louca e às vezes desesperada aventura de cozinhar. Nunca tive a sorte de aprender só de olhar a mãe fazer, no caso, como aconteceu com meu irmão. Impressionante como o puto cozinha bem. Ele pode fazer miojo ou virado a paulista, que simplesmente fica uma delícia. De lamber os beiços e as mãos. Meu irmão tem o dom. E não é mero acaso. Creio que herdou do pai ou dos tios ou tias ou mãe.
Meu pai foi de tudo um pouco. Dentre várias atribuições e experiências, chefe de cozinha. Trabalhou durante um bom tempo em restaurantes de Sampa, mas necessariamente na Liberdade e Centrão. Às vezes em dois, ou três de final de semana. Raramente ele cozinhava em casa, minha mãe achava injusto, a boa amélia, tinha por hábito não deixá-lo fazer absolutamente nada. Mesmo trabalhando em dois empregos, sentia prazer em cozinhar, relaxante, um pouco de Julie & Julia, no caso dela. Para o pai, era trabalho.
Raro mas acontecia de um e outro final de semana de folga, trocarem de cena. Ela simplesmente adorava vê-lo cozinhar. Primeiro porque cozinhava todos os dias e lhe quebrava a rotina, além de experimentar as receitas novas que ele aprendia no restaurante. Receitas deliciosas, como: lombo recheado; virado a paulista [aquele bem gostoso]; peixada [das boas,de toda natureza de peixe que possa sonhar]; bacalhau com batatas e rodelas de cebola; feijoada [encorpada e deliciosa], saladas de todo tipo, além de massas em geral. Ah, aquela lasanha maravilhosa! Enfim,varias receitas e pratos que não lembro nomes, citei o que me apetece.
Cheguei no ponto crucial. Meu irmão aprendeu por vontade e não necessidade. Nunca percebemos que rodeava minha mãe na cozinha, muito atento, fazendo perguntas e mexendo nas panelas,por interesse em cozinhar. Aprendeu assim, fácil, fácil. Na contramão eu, que detesto cheiro de alho, de cebola, verdadeiro asco. Estou na luta em aprender por necessidade, sobrevivência mesmo. O que dificulta e muito a aprendizagem.Sempre muito desastrada, como bem diz meu irmão "- não sabe nem pegar na colher de pau!" rsrs. Para minha raiva, estresse e "humilhação". Deixo cair os temperos, corto os legumes errado, acrescentando o sangue ao molho, carne , cansei de cortar o dedo. E maior de todos os males, queimar tudo!
No ano de 2010 foram incontáveis almoço e janta queimados. Porque viver de miojo e lanche ninguém aguenta. Haja grana para restaurante, o jeito é tentar. Tentei. Conto morrendo de vergonha, porque infelizmente não é invenção.Pois bem, foi assim...
Domingo de sol, acordando lá pelas 11 e tantas da manhã, sem vontade de tomar café, e olha que eu amo café, é vício maldito e desgraçado que me ataca a gastrite vezenquando. Continua... Acordei com vontade de comer grão-de-bico. Para aqueles que não conhecem, não sabem e nunca viram, grão-de-bico é um legume. Sim, legume! Não é comida de passarinho, mas poderia ser. É cheio de proteínas, sais minerais e vitaminas do complexo B, do ponto de vista nutricional é otimo a saúde. Além de ser bem gostoso. Pode ser cozido, ou feito como salada, ou misturado com arroz feito baião de dois, ou como bem queira, vai do gosto.
Eu particularmente gosto do jeito que minha mãe faz, assim: cozido em panela de pressão com bastante caldo, cheio de linguiça, batatas e bacon,[ hum adoro bacon ], e salsinha por cima por favor! E acompanhado apenas de arroz. A maioria frita costela e faz refogado de couve, eu gosto apenas com arroz. E como de baciada se deixar. É eu ando uma verdadeira Magali. pausa por favor [ hahahahahahahhahahahahahahhaha ].
Então, acordei com essa vontade louca que me dá agora ao escrever. Fui ao mercado e comprei tudo e quase morri quando passei no caixa e percebi como é caro grão-de-bico, mais que o feijão, comprei mesmo voltando dura para casa. Liguei pra mãe, pedi instruções, anotei no caderninho e bora pra cozinha. De bom humor, mamis diz: sempre bom estar bem para cozinhar [ ! ou ? ].Tomei banho, devido o calor infernal, coloquei musica, Tom Jobim e Elis e comecei. Fiz o arroz, e já comecei errado, se nem o grão estava cozido, porque diabos fiz o arroz-papa primeiro (?), essa nem eu entendi. Talvez, justifique a pressa, a fome, estômago grudado nas costas só beliscando alguma coisinha.
Para cozinhar o grão tem que deixar no minímo 1 hora e meia de molho, deixei. E coloquei na pressão. Quarenta minutos depois, abro panela e nada, 1 hora e 40 minutos depois..., abro a panela e nada. Mas lembrei na hora que minha mãe ressaltou que demora mesmo a cozinhar. Tá, então fazer o quê? Espero na sala, levo um biscoito e assisto alguma coisa. Até cozinhar...
Esse foi o erro, estava com tanta fome que dormi. Sim a louca aqui dormiu. Mas exatamente 3, eu disse três, helooo motorola três, 3 malditas horas depois eu acordo, em meio a nuvens. Pronto! Morri e cheguei ao céu! Não, para minha desgraça e desgosto, não! O cheiro de queimado era insuportável, quando dei por mim, pulei do sofá e corri desesperada pra cozinha tentando espalhar a fumaça com pernas tremulas e bambas chego na cozinha, a panela de pressão a ponto de explodir, mesmo em fogo baixo, capengando. De repente o pino sai e pá!!! Explodiu no teto, e por muito, muito, muito pouco, não aconteci uma desgraça. Desliguei o fogo e fiquei longe da panela, abrindo as janelas da cozinha, da sala, dos quartos, do banheiro, e a fumaça saindo...lentamente a desgraçada saia... Juro que não conseguia enxergar os moveis, de tanta fumaça! Nuvens de fumaça...
O cheiro pela casa era de borracha queimada. E pra limpar? E pra sair aquele cheiro? Meu Deus, eu nunca mais esqueço da fumaça. E quando eu penso - bom, eu estou sozinha, meu irmão trabalhando, minha mãe longe, menos mal. Ninguém ficará sabendo. Quando a desgraça aconteci, é por inteiro, nem dois minutos depois do ocorrido, toca a campainha.
"- oi dona Ana! tudo bem! " [ cara de preocupação, pavor,pasmo! ]
"- oi seu Damião, tudo bem?! e o senhor?" [ cara de cínica ]
"- tudo bem graças a Deus... então sabe o que é, percebemos no prédio o cheiro de fumaça, saindo pelos corredores, chegando até o 9º andar e ficamos preocupados...mais um pouco estávamos chamando o corpo de bombeiro, está tudo bem? A senhora está bem? Aconteceu alguma coisa? Problema na fiação e tal e tal...posso ajudar? "
Pensa em alguém com muita vontade de chorar. Eu mal tinha "chegado", nova no prédio e estava causando.Logo eu que prezo tanto pessoas discretas e até me julgo ser uma. Agora todo mundo ficará sabendo, fiquei com muita vontade de chorar...mesmo assim respondi:
"- ah, tá tudo bem seu Damião, é que eu queimei o grão-de-bico. [ ! ] é...mas assim, não conta pra ninguém não! "
silêncio de segundos, para meu desespero.
"- ah não se preocupe, isso aconteci né?! ok, tchau , desculpe incomodá-la."
"- foi nada, desculpas peço eu pelo transtorno..."
Tá, ele fez uma cara de interrogação e piada. Saiu com risadinha de canto. Mas juro que achei que nada sairia dali. No dia seguinte... às 08:00 da manhã, saio pra trabalhar, no elevador, uma senhora distinta e cheirosa de cabelos loiros me pergunta.
"- oi você não é a moça do apto 33? "
"- sou, sim e a senhora? "
"- do 42. não foi com você que aconteceu o acidente do grão-de-bico? ficamos tão preocupados menina, porque era tanta fumaça..."
"- é...foi comigo " [ cara de paisagem, choro, vergonha...]
A noite, quando chego em casa, meu irmão olha pra mim com cara de cretino e diz:
"- como você conseguiu fazer isso? Quase explodir a casa?" E riso, muitos risos. Não. Na verdade gargalhadas, dele claro! No dia seguinte... minha mãe, meus tios, minhas tias, meus primos, os colegas dele e até meu pai que mora lá no fiofó das parafuzetas. E semanas depois os vizinhos ainda me perguntavam, se estava bem. Do corredor? Não! Dos blocos.
É... eu fiquei conhecida no prédio, blocos, como "a moça que queimou, tostou o grão-de-bico". Para meu desgosto e desalento como "A cozinheira" na família, claro em tom de deboche, sarro, piada e eteceteras. Ok, aconteci. Não com qualquer pessoa, sempre comigo, sou premiada. Mas eu não desisto nunca!
E recentemente, obtive grande sucesso ao fazer costela, num domingo parecido ao grão-de-bico. Mas sem fumação e queimado. E desculpe a arrogância em dizer, mas ficou uma delícia!!! E ver a cara do meu irmão ao admitir que ficou gostoso e mais a namorada dele, não tem preço! Que prazer inenarrável ! Essa é outra história... admito alguns desastres. Claro né! Se não tiver unzinhos, não é eu.
[ :) ]
sábado, 29 de janeiro de 2011
A história do grão-de-bico ou A cozinheira
"...Ontem o mundo me expulsou da vida. Hoje a vida nasceu.
Ventania, muita ventania. Que instabilidade. Me muero.
Vivo no futuro da ventania.
Por que é que tudo se diz: fica para a semana que vem?
Eu estou aqui, aqui à espera.
Vivo agora e o resto que vá para a puta que o pariu...." (Clarice Lispector)
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O pior massacre é vc queimar vergonhosamente o miojão!!! rererere minha amiga conseguiu essa façanha e eu estava lá para rir até cansar!
ResponderExcluirAna...
ResponderExcluira-d-o-r-o essas histórias, fazem com que eu me sinta mais "normal"...risos...
e o pior é que fiquei morrendo de vontade de comer grão de bico... risos...
só não corro prá cozinha e me aventuro porque provavelmente ficaria famosa no bairro, como você !!!
risos...
beijos carinhosos