Eu  estava prestes a cometer um grande erro. Tinha duzentos neurônios e  trinta reais e noventa centavos a perder. Tomei coragem, respirei fundo e  levei o produto até o caixa como se eu fosse um urso polar caminhando  sobre o gelo fino. Não queria que nenhum cliente me pegasse no flagra.
- Tem certeza que você vai levar esse livro?
Um  senhor de barba branca, camisa social e cabelo ralo penteado para trás  fez a mesma pergunta que eu havia feito a mim mesmo minutos antes.
- Não - respondi. - Mas fiquei curioso. Acho que vou levar sim. 
- Tá bom. Você que sabe - ele respondeu, colocando a tal coisa numa sacola.
Antes  que você me chame de iletrado, saiba que as duas formas são possíveis.  Tanto o “você que sabe” como o “você quem sabe” são aceitos pela língua  portuguesa. Mas voltando à nossa historinha enfadonha, uma coisa é  certa: eu não precisava ter comprado aquele livro. Bastava a leitura de  no máximo dez páginas, em pé, em frente à bancada dos livros mais  vendidos. Depois eu sairia de lá com o novo do Paul Auster debaixo do  braço e o dono da livraria ficaria orgulhoso de mim, do Brasil, do mundo  e dos pássaros. Ele poderia pensar que após a compra do Auster, ou  então de um Scott Fitzgerald, os pássaros teriam um bom motivo para  continuar a voar, cantar e defecar livremente na porta de entrada do seu  estabelecimento.
Alguns  anos depois, em consideração ao senhor da barba branca, passei longe  das salas de cinema que exibiam o filme inspirado no livro. Devo dizer  no entanto que gostei do que vi nos cartazes de divulgação. Normalmente  só tem o nome do filme, os nomes dos atores principais e o dia da  estreia. Mas dessa vez, além das informações básicas, a produção optou  por frases bacaninhas que a meu ver ajudaram a vender o filme:
- Seu namorado quer ver? Então mostre pra ele.
- Vá com seu namorado, suas amigas ou sozinha. Só não vá com preconceitos.
- A história de uma garota de família. Até a cena 2.
Quero ver o filme.
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