sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mafalda e meus devaneios

Passeando por um blog me deparei com uma tirinha da Mafalda. Quino sempre deixando a gente de boca aberta diante das palavras daquela pequena (só no tamanho). Mas, dessa vez, a Mafalda foi tão cruel que me doeu o corpo todo. Não sei se por ser mulher, ou por ser filha, neta, sobrinha.

Nós, mulheres, o que devemos ser? Já somos predestinadas aos serviços domésticos e de maternidade, ou podemos ser tudo o que quisermos? E um coro todo grita: seremos o que quisermos. Mas, se por uma fatalidade do destino, criação, vontade, escolhermos ser devotas do serviço doméstico e da maternidade? Estaremos ainda na posição de mulher moderna-alternativa-decidida-independente? Ou, para sermos esse rótulo, só vale produção independente, diarista e lava-louças, prato-feito no restaurante?

Fico irritada e desconsolada. Na verdade, não consegui achar as palavras certas para definir como eu me sinto. Me sinto triste. Sim, triste. Ao pensar que as mulheres que não optaram por uma vida de trabalho fora de casa, produções acadêmicas, trânsito, não possuem vida. E, que se elas vivessem, não estariam no (des)aconchego de seus lares, cuidando com amor dos filhos que não sabem o quanto deveriam agradecer por aquela cama arrumada, aquela roupa lavada com cheiro de amaciante Ypê e carinho; ou mimando os maridos, que após o abandono do seio materno, buscam na esposa o cuidado de filho e o amor de amante. Ser a mulher predestinada não é fácil. Talvez seja mais desafiador do que ser a típica mulher moderna independente.

Acredito que a gente acaba por inverter papéis meio que sem querer – talvez pra dar continuidade a movimentos feministas, Simone de Beauvoir, sutiãs queimados. Mas essa mulher tida dependente me parece justamente o contrário. Não seriam seus maridos, filhos, agregados, animais de estimação, todos eles dependentes dessa mulher que não vive apenas uma vida, mas várias? Se preocupando com os mínimos detalhes para fazer quem está perto, pelo menos, um pouco feliz? Acredito que nós, mulheres prafrentex modernets, consideramos termos vida por não conseguirmos ter várias vidas como a mulher predestinada. E o que seria de nós, sem os cuidados delas?

Esse post é dedicado a todas as mulheres fabulosas como a minha mãe Alexandra que é uma maravilhosa mãe, uma ótima dona de casa, uma excelente cozinheira e uma exímia artista nas artes de viver, ajudar, e encher de amor as várias vidas que pegou para si.

10 comentários:

  1. Sabe... eu sempre pensei assim.
    A liberdade também vem detrás do fogão: a liberdade de escolher ser assim.
    E até hoje sinto saudades da lasanha divina da fabulosa da sua mãe Alexandra.

    ResponderExcluir
  2. Entendo teu ponto de vista, Bá. mas claro que intenção de Quino não era ofender, e sim justamente fazer uma crítica social e mostrar que, no contexto das décadas de 60 e 70, a mulher poderia ter outra opção diferente deste 'destino manifesto' de ser uma 'escrava do lar'.
    Isso fica ainda mais claro com a Susanita, que é a menina cujo único sonho é ter um marido rico.
    O lance é que, como Mafalda é tão atual, a gente transporta tudo automaticamente pra nossa realidade. Hoje em dia as mulheres são mais livres (não julgo a intensidade desta liberdade) para escolher seu próprio destino, seja como dona de casa, como executiva, como educadora ou como tudo isso. Antes não havia essa opção, e a pergunta de Mafalda pra sua mãe procura despertar essa idéia nas mulheres. "Se lhe fosse dada a oportunidade de viver, o que você gostaria de ser?"

    Beijos!

    ResponderExcluir
  3. sei que o meu ofício de historiadora seria contextualizar a tinha como você fez, duáárdo, mas fui tão impulsionada pelo meu choque que não consegui me conter hehe e me veio na hora aquele filme 'o sorriso de monalisa'. já viu? é muito bom. também coloca essas questões. a professora toda independente vai dar aula num lugar onde as mulheres são instruídas para viver no estilo america way of lie, ops, life. e ela fica inconformada, até que conhece uma das alunas que pensa em cursar direito e talz. mas quando essa aluna decide se casar, a professora tenta convence-la de que isso não é vida. e por aí história vai...se não assistiu, assista! =)

    ResponderExcluir
  4. sim sim! eu curto esse filme, mais pela comparação do delicado sorriso da monalisa com o monstruoso sorriso da julia roberts! hahaha
    mas de fato, todas essas questões são mesmo delicadas. é impossível alguém ligar o tema 'independência feminina' com 'trabalhar fora de casa', a liberdade e a independência está em justamente escolher o que se quer fazer, ora bolas!
    é sob esse ponto de vista que eu adoro o seu post. =D

    ResponderExcluir
  5. Esses assuntos que me dizem muito respeito sempre são difíceis de pensar, muito mais ainda de opinar. Hoje somos bastante pressionadas em ser a mulher top master ultra, seja como boa esposa e dona de casa, ou como profissional e modernete e etc. Haja pressão! Aqui ou em qualquer lugar, só muda a freguesia.

    ResponderExcluir
  6. Respeito, amo as mães! Amélias ou não.

    Tudo uma questão de escolha e se te faz bem é o que importa!

    Amo minha mamis, que teve fases, de amélia, muderdinha, amélia de novo e agora um misto de tudo.

    é...ela não é a mesma sempre, nem eu, nem nós.

    Muito bom!

    ResponderExcluir
  7. queria parabenizar! muito bom, inteiramente e acertadamente!

    ResponderExcluir