quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Despedir dá febre.

Certa vez li um escrito de Guimarães Rosa em uma exposição que me deixou marcada para sempre: “despedir dá febre”. E como dá! A gente já nasce se despedindo: do útero quentinho da nossa mãe à infância, dos dentes de leite aos colegas de sala. E essas despedidas, que são permanentes, dão lugar a outras maravilhas que, por sua vez, também terão o mesmo fim. Lembro do choque que levei ao me despedir da infância, recebendo, assim, a adolescência: aquele infeliz domingo em que, pela primeira vez, eu descobri que virar mocinha não era tão interessante. E que aquilo duraria por um bom tempo. Depois, vieram os presentes que não eram mais barbies ou cd’s das chiquititas, mas sim “sutiãs” – e como eles incomodavam! O fim do ensino médio me fez sentir sozinha novamente. Embora a faculdade fosse um sonho se concretizando, nenhuma sala de aula substituiria aqueles três anos no Colégio Atenas – “valeu, Atenas! Ê ê. Valeu, Alfenas! Ê ê” ainda ecoa na minha cabeça toda vez que me lembro dessas anos tão repletos de amigos. Foi nesse colégio que, pela primeira vez, senti que eu não precisava mais me adaptar. O que foi muito bom porque, afinal, eu nunca fui muito persistente nessa idéia – o isolamento era sempre a boa pedida. Mas essa reclusão, que durou até o final da oitava série não foi de todo ruim: com ela eu aprendi o gosto das artes; literatura, música, fotografia, pinturas. Quanto à faculdade...o curso errado jamais seria suportável se eu não tivesse o prazer de morar na melhor república da paróquia – a Ploc. Agora eu entendo a nostalgia das ex-alunas (isso porque me enquadrei nessa classificação há um mês e alguns dias). Ontem, olhando fotos dos meus primeiros períodos na faculdade, me dei conta da despedida pela qual estou passando. Mariana e Ouro Preto (e todas aquelas montanhas, neblinas, igrejas) foram meu lar por quase quatro anos. Embora o último ano possua algumas lembranças nem tão felizes assim (nada supera a crueldade e inveja das meninas más), todos os sentimentos que estão palpitando aqui dentro são filhos de uma felicidade escondida. Felicidade de cantar I wanna to go back to Bahia, conversar no redondo, textos atrasados, sagarana, catuaba, suquinhos gummy, soneca em machu pichu, o vício pela pipoca, as gírias internas como “bigodeira”, “desnê”, “plotter”, jogar perfil. E a despedida não se limita a essa vida construída nesses quase quatro anos. Também estou em contínua despedida do aconchego e amor da casa dos meus pais. Primeiro, ao sair pela primeira vez. E, agora, a segunda, devido aos estudos na Argentina. E já dá um friozinho na barriga de pensar que, daqui alguns meses, a terceira será inevitável: o desastroso destino das pessoas que precisam trabalhar mas não sabem com o que. O final de semana com o namorado também foi uma despedida ininterrupta. A cada beijo, abraço, conversa, brincadeira. Quando se tem passagem marcada, cada segundo é como um indício de contagem regressiva. Justo eu que morro de medo de avião! E o namorado não estará lá dessa vez para me acalmar com seu ronco tranqüilo. Chega até doer esse meu tom de falar sobre as despedidas. Porque, afinal, estou indo em busca de um sonho: o de me encontrar. E pra me encontrar, sempre acreditei no pressuposto de que encontrar o mundo, primeiro, é fundamental. E eu vou, com frio na barriga e fome de experiência. Sem cara nem coragem, mas com uma vontade enorme de aprender uma nova língua, novos costumes, conhecer novas pessoas, provar novas comidas, me maravilhar com novas paisagens. Buscar o novo para resgatar o antigo que se perdeu por não sei que curva. Porque as vezes a gente se perde, quase sem querer. E tudo fica sem vida; os gostos, sem vontade. E a depressão mora ali na esquina. E, de repente, um post sobre a despedida, se tornou um post sobre o novo. E, assim, depois da febre, vem a vontade de andar na chuva novamente.  



Ps. essa foto eu tirei em Águas da Prata em uma estação de trem há muuito tempo atrás. Já utilizei ela em outro blog que eu tive. Se tiverem curiosidade de ler a poesia, aqui está o endereço: http://defloraflor.blogspot.com/2007/02/despedir-d-febre.html

Ps.2. me desculpem eventuais erros. essa internet e nada tá quase a mesma coisa. além da bateria do notebook...




4 comentários:

  1. Ô Barbara!
    Que delícia de texto!
    Olha, tô na torcida por você, viu?!
    Que suas experiências sejam maravilhosas, nessa "nova vida"!
    Bjaum!

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  2. Bá, o texto tá lindo :)
    Que delícia ir pra Argentina!

    beijos!

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  3. A coisa boa disso tudo é que depois de uma despedida sempre vem o novo! Como diria Galvão Bueno "Que venha a Argentina!"

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