Domingo é Páscoa e resolvi escrever algo a respeito. Queria um texto que não fosse exatamente confessional, mas que abordasse a tônica, o sentido e a essência da data. Resolvi recorrer ao meu baú e ressuscitei esse textinho, originalmente publicado no "Diz Que Fui Por Aí", em abril de 2009. Confiram:
NÃO APODREÇA... RENASÇA!
Fim do primeiro período na faculdade. Provas, entrega de trabalhos, notas... A disciplina era Antropologia Cultural e a professora lembrou da resenha para ser entregue no próximo encontro. Como se tivesse caído de paraquedas no meio da sala de aula naquele instante, perguntei prum amigo que diabo de resenha era aquela. Ele me explicou que era sobre um livro do Roberto DaMatta. Vergonhosamente, nem o nome do livro eu sabia. "O que faz o brasil, Brasil"- foi a resposta.
Desesperado e, detalhe, duro igual a um coco, procurei alguém que me emprestasse o tal livro. Nenhuma alma caridosa se prontificou a me ajudar. Muito mal me deixaram ler a orelha. E em cinco minutos, eu tratei de resumir o que o autor pretendia ali.
Na aula seguinte, lá estava eu, mais cara de pau que nunca, entregando o trabalho conforme pedido pela professora.
Semana seguinte, ela entra em sala, falando que as notas haviam sido muito baixas. A impressão que tava é que ninguém havia lido o livro. Gelei. Crente que era esperto, fui pego no pulo.
Ouvi então meu nome. A professora, em sua mesa, me esperava; o calhamaço de folhas suspensos no ar em minha direção. Aproximei-me, sem graça. Ela, só sorrisos.
"Parabéns! Seu trabalho está ótimo! Nota dez!"
Sim, queridos. Nota dez. Não pensem que me orgulho disso, mas minha trapaceira manobra me garantiu um CR digno no fim daquele semestre. É claro que mais tarde me redimi e li a obra doDaMatta. O livro levanta a questão da identidade nacional. Há algo no Brasil que nos faz únicos. E é disso que quero falar nesse Domingo de Páscoa.
Mas, peraí... Páscoa, O que faz o brasil, Brasil? O que tem a ver uma coisa com a outra?!?
Páscoa é uma festa cristã. Melhor: é a festa cristã por excelência. Melhor ainda: é a festa judaico-cristã por excelência, afinal, ela já era comemorada antes da passagem de Cristo pela terra.
Para os judeus, rememora a fuga do seu povo do cativeiro do Egito. É a passagem da escravidão para a libertação.
Para os cristãos, celebra-se a vitória de Jesus sobre a morte na cruz. Três dias depois, o túmulo de Jerusalém estava vazio e Cristo ressurgia em toda sua glória.
Portanto, meus amigos, não importa que fé você professe - ou que deixe de professar. Vivemos num grande caldeirão de culturas (esse era um dos temas do livro) e, mesmo que a festa de hoje pra você, seja vazia de significado, os ovos de chocolate e as felicitações de Feliz Páscoa não faltarão. É um daqueles tempos em que tudo se impregna, mesmo que seja pelo forte apelo comercial que a data carrega.
De qualquer jeito, fica a mensagem: que o dia de hoje sirva de reflexão. Renasça. A água estagnada apodrece.
Friedrich Hegel (1770-1831), filósofo alemão, interno no seminário protestante em que estudava, durante uma Sexta-Feira da Paixão, teve um insight valioso: a Páscoa nos revela a dialética objetiva do real - tese, antítese e síntese. Viver é a tese, morrer é a antítese e ressuscitar é a síntese.
Pensa sobre isso, entre um ovo e um bombom... E uma grande Páscoa pra você e pra todos os seus!
Quero parar de estagnar já! Sério, Marcelo, fiquei bem arrepiada aqui, com esse insight do Hegel que você trouxe. Ah, já passei muito caô e me dei bem, também não me orgulho disso, também já li depois os livros que deveria ter lido antes. Enfim, Boa Páscoa!
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