quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Não mudou muita coisa

No iníco éramos eu e a bola. No quintal, no recreio, na rua e na cama. Debaixo do braço era prenúncio de dias difíceis. A apocalíptica época de pipa! Sem trombeta nem apito, só a certeza de que o mundo acabara, pelo menos naqueles dois meses. Que desgraça. Partia pro aprimoramento individual, chute forte no muro dominando no peito o rebote, drible na cachorra e rolinho no vazio. Escurecendo ia pra calçada da dona Olinda, corpo no chão, nuca na bola e carretéis enrolados deitávamos. Olhava pro rio, falava do Palmeiras, da seleção, do shorts da vizinha, e se decidia com quem ia ficar a fita pornô aquela semana.

No início éramos eu e a bola.


Preocupado, ás vezes me percebo com a mão na cintura, fumando um cigarro. E sinto sua falta.


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