no ano passado, enrolada em uma crise "institucional" que me ameaçava com sua sombra de dor, tomei algumas resoluções. não é preciso dizer que essas resoluções cumpriam o papel de me colocar de volta num lugar que me fizesse bem. quando se sofre, a sensação é de que o mundo nos foi roubado. eu dizia que não era sofrimento, mas um mal-estar profundo. mal-estar dá trabalho. e nada me aborrece mais do que a sensação de estar dando trabalho para mim mesma. então, antes que tudo virasse um dramalhão, eu resolvi escrever.
estranho isso da escrita. se escrevo em blog, não passo de um bichinho viscoso com o ego inflado ao quadrado. é o que dizem. se escrevesse um romance, seria escritora. e poemas, poeta. eu faço parte da primeira ninhada, ainda que o blog ande cada vez mais capenga. mas também de outra, que tem a ver com a resolução::: a de escrever textos acadêmicos. ou artigos científicos, como se diz normalmente. ou ensaios, como querem os pedantes. ou como fazem os muito sabidos.
não que eu tenha qualquer ilusão. escrevi uma tese que me consumiu cinco meses, além dos quatro anos em que deveria estar supostamente lendo para - a escrita da tese. ela foi bem elogiada e pouco lida. e modéstia às favas, gosto bastante de algumas invencionices que lá estão, o que não me impediu da frustração de vê-la rejeitada por uma editora. fiz uma tentativa de publicá-la em livro que não deu certo e de vez em quando tenho ímpetos de atentar contra minha pessoa (e/ou contra a editora) quando vejo trabalhos muito mais mequetrefes do que o meu publicados com pompa e muita divulgação. não sirvo nem para uma coisa nem para outra, apesar do ser viscoso.
a resolução de escrever tem a ver com o fato de que uma das principais funções do professor universitário hoje é publicar aquilo que seria o resultado de suas pesquisas. não sei se alguém ainda lembra neste tempo da técnica de que a universidade é um lugar de pesquisa. muitas vezes, eu quero crer que não tenho propriamente uma pesquisa, e sim obsessões, paixões, que me fazem derivar de um lugar a outro. assim, eu tiro o peso e em troca tenho o prazer da escrita.
que escrever artigos científicos é uma coisa meio besta, ninguém duvida. primeiro, escreve-se; geralmente "encolhido" por um tema. depois, ficam-se meses esperando a resposta dos editores da revista para saber se o artigo foi aceito. tipo jogo de gato e rato. de todo modo, às vezes a "coisa" dá certo. minha sorte é que, ao escrever, o que me interessa é o fato de sentir-me extremamente viva, fincada num mundo absurdamente bonito. daí que como resultado da minha resolução tem um texto meu sobre Milton Hatoum publicado aqui. E outro sobre Cristovão Tezza aqui.
E tem mais um texto neste livro da Mercado de Letras, organizado por minha amiga Marinalva (sim, às vezes o jogo de gato e rato é mais fácil,embora o peso da responsabilidade seja bem mais pesado, sobretudo para alguém que é meio obsessiva como eu).
tudo foi regado a coca-cola em noites infindas. e acho que é mais por isso que me deu vontade de partilhar. é bom quando a decisão vira. acontece.
* "egopress" é o nome de uma das seções do blog de michel laub quando fala de algo relacionado à publicação de seus textos e livros de ficção.
** e de novo, consegui publicar somente no dia 27. Mas hoje foi culpa do fuso horário. Aqui, na mata, ainda são 23h30.
** e de novo, consegui publicar somente no dia 27. Mas hoje foi culpa do fuso horário. Aqui, na mata, ainda são 23h30.
a
ResponderExcluircoca
já
não
cola
mas
nos
faz
lembrar
que
a
escola
é
uma
questão
de
escolha
o
conhecimento
é
uma
bolha
gênio
na
garrafa
tentando
estourar
a
rolha
É sempre bom ter um amigo pra divulgar nossos trabalhos rsss
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