sábado, 1 de fevereiro de 2014

Porque não sou fiel


Sei que este é um assunto delicado, sensível e para alguns, polêmico. Sei de vários casos em que a falta de "fidelidade" causou sérios problemas, desestruturou famílias e, principalmente gerou muita mágoa na vida de gente que não tinha nada a ver com a história. Sei que talvez eu me exponha demais, mas a vida é assim, uma grande exposição. Por isso optei por escrever sobre o assunto, uma vez que me dou melhor com palavras escritas, mesmo sabendo que o que está escrito está escrito e talvez possa pagar por isso mais tarde. Que venha a conta.

Ainda é preciso ressaltar que manter um relacionamento é sempre muito bom (eu curto), mas não é tudo na vida (digo isso, mas faz oito anos que namoro, quase que ininterruptamente - só pra citar os últimos 3 relacionamentos, então não dê muita atenção para o que vou dizer nos parágrafos abaixo, pois amanhã posso mudar de ideia). Se tenho essa virtude ou este vício (ou mesmo este defeito, caso prefira) tenho outras qualidades. Sou bom no que faço, honesto, reconhecido na profissão, não roubo, não mato, respeito os mais velhos, aprecio arte e no fundo no fundo sou bem gente boa, tá? ;-)

Mas acontece que eu, que não sei nada sobre o amor, desconfio de muita coisa. Tive poucos “relacionamentos sérios” (status da sociedade criado pelo facebook para mostrar aos outros que você está namorando), mas – a meu ver – foram relacionamentos gostosos enquanto duraram. E algumas questões sempre me incomodaram e incomodam no sentido de TER uma relação. Por que duas pessoas decidem ficar juntas hoje em dia? O que é o amor? Porque o sexo ainda é um tabu? Por que a traição é um pecado mortal? Existe mesmo APENAS UMA tampa para cada panela? Por que tantas pessoas procuram prostitutas e prostitutos? Pensemos.

Fidelidade, por exemplo, é uma palavra estranha que não faz parte dos meus relacionamentos, nem do lado de cá e algumas vezes, nem do lado de lá. Digo algumas vezes, pois há uma pessoa com quem me relacionei que - pelo menos eu acredito em suas palavras - não tenha ficado com ninguém mais durante nossa relação. E isso não é segredo para ninguém, por isso, relaxem, não vou expor ninguém além de mim. Muitas vezes também nem ouso me explicar ou comentar sobre minhas experiências porque posso causar a impressão de que eu queira me aparecer ou pagar de fodão, piranhão. Outras vezes já me tacharam de mau caráter, traidor, filho da puta e, claro, puta. 

Assim como traição, a palavra fidelidade carrega em si um sentido muito mais simples do que parece. E sem querer entrar na questão histórica do que é amor, partindo do pressuposto de que vocês têm suas próprias respostas, digo que uma coisa (o amor) não tem nada a ver com a outra (a fidelidade). Ok, quando casais casam, principalmente na igreja, eles fazem juramentos super bonitos (eu sempre choro) dizendo que vão se amar para sempre e que vão ser fiéis um ao outro. Vão mesmo? Acho legal, mas o que seria ser fiel?



Estes dias contei a um amigo sobre o fato de não conseguir manter uma relação sem ficar com outra pessoa e ele me disse que o dia em que eu encontrar um amor de verdade não terei essa vontade. Não concordo, pois amei de verdade cada uma das pessoas que amei.



Há ainda quem diga que quem trai (não concordo com este termo, prefiro “quem fica com outras pessoas) é um mentiroso. Ok, menti algumas vezes e disso me arrependo, pois a mentira é mesmo um lance muito chato, que magoa. Mas, muitas vezes, eu não menti, apenas deixei de contar. Então eu omiti? Sim, e isso é praticamente a mesma coisa que mentira, ok. Mas ainda assim acho que há coisas que fazemos e que não precisamos compartilhar com o parceiro, até para preservar a individualidade e a privacidade. E nas poucas vezes eu contei que tinha ficado com outra pessoa, o que sempre aconteceu foi uma sequência de  brigas, separações, voltas, brigas e assim sucessivamente.

A pior dificuldade que vivi seguindo esse way of life foi ver pessoas que eu amava e que me amavam magoadas, tristes, chorando. Chorei também, mas Juro que queria que fosse tudo mais fácil, que a vida fosse mais certinha, que eu não precisasse guardar segredos, que eu mesmo fosse mais sincero com quem estava perto de mim, que eu não tivesse que magoar, apenas.



Amei pessoas incrivelmente cativantes, apaixonantes e queridas, pelas quais me apaixonei no dia em que as conheci, as quais acredito que me amaram também, pelo menos boa parte da relação. E quantas outras passaram pela minha vida neste tempo? Muitas. Estou pagando de pegador e fodão? Não. Apenas um réu confesso em busca de entender melhor a vida.  



E isso não quer dizer que meus companheiros não davam conta do recado ou que a gente tinha brigado ou que eu estava em dúvida em relação ao que sentia, ou que eu estava bêbado. Essa coisa de mandar bem nunca me impressionou. Eu mesmo não “mandei bem” algumas vezes por uma série de motivos. Foi sempre uma questão de desejo e escolha. E quase nunca passou de apenas uma vez. Quando passou, tomei cuidado para que aquilo não virasse um caso amoroso, pois preferi, sempre, preservar a relação. 



Mas e aí, por que nunca fui fiel? Bom, primeiramente é preciso dizer que não o fui (e não o sou) apenas se for levar em consideração que ser fiel é não ficar com ninguém mais além do parceiro. Segundo, porque eu gosto do corpo humano masculino, acho bonito. E mesmo não me achando um gato, cedi muitas vezes a um olhar um pouco mais intenso, sexy. Outras vezes o olhar partiu de mim. Então se eu estava em algum lugar e rolasse o desejo, eu até pensava duas vezes, mas na terceira já partia pro papo e o resto.

Sinto ciúme sim, mas entendo que não sou e que nunca serei o único cara na vida de ninguém. Sinto mais ciúmes quando sei que quem está comigo na verdade não está. Sinto ciúme do celular, dos amigos, fico triste com a falta de companhia, de carinho, de presença. Sinto mais por tudo isso do que saber que quem está comigo beijou ou transou com outra pessoa. Claro que saber que quem você ama saiu com outra pessoa, causa uma raiva, um sentimento de diminuição, de insuficiência. Contraditório? Sim, mas isso é papo pra outro dia.

Eu não vou fazer apologia à poligamia (mesmo porque isso é ooooutra coisa), mas ficar com outra pessoa que não a que você esteja se relacionando e amando, não significa necessariamente que você em determinado momento a ame menos, que ela seja menos bonita, menos gostosa (às vezes sim, é preciso admitir), ou mesmo que seu relacionamento não está assim tão bom. Mas há um risco grande da relação acabar, isso é verdade. E claro, há também aqueles que procuram outra pessoa porque estão - de fato - de saco cheio, o que não foi o meu caso em nenhuma das ocasiões. Cada caso, um caso...

Enfim, não vou esgotar neste texto minha opinião sobre relacionamento. Acredito no amor e acredito que um dia eu possa não querer estar com ninguém além de quem esteja comigo. Pode ser que aquele meu amigo esteja certo e ainda não encontrei o amor de verdade, mas peço ao deus do amor que, se essa pessoa existir, não cruze o meu caminho. Quero amor onde prevaleça o companheirismo e a parceria, não um juramento perante a sociedade, muito menos perante o facebook.

(mês que vem, se eu estiver com vontade, falo de como lidei quando meus parceiros ficaram com outras pessoas)

5 comentários:

  1. De "Amor Líquido - Sobre a fragilidade dos laços humanos", Zygmunt Bauman:


    "Os jovens que estão nascendo, crescendo e amadurecendo nesta virada do século XX para o XXI também achariam familiar, talvez até auto-evidente, a descrição de Anthony Giddens do "relacionamento puro".

    O "relacionamento puro" tende a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se entra "pelo que cada um pode ganhar" e se "continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma satisfações suficientes para permanecerem na relação".

    O atual "relacionamento puro", na descrição de Giddens, não é, como o casamento um dia foi, uma "condição natural" cuja durabilidade possa ser tomada como algo garantido, a não ser em circunstâncias extremas. É uma característica do relacionamento puro que ele possa ser rompido, mais ou menos ao bel-prazer, por qualquer um dos parceiros e a qualquer momento. Para que uma relação seja mantida, é necessária a possibilidade de compromisso duradouro. Mas qualquer um que se comprometa sem reservas arrisca-se a um grande sofrimento no futuro, caso ela venha a ser dissolvida.

    O compromisso com outra pessoa ou com outras pessoas, em particular o compromisso incondicional e certamente aquele do tipo "até que a morte nos separe", na alegria e na tristeza, na riqueza ou na pobreza, parece cada vez mais uma armadilha que se deve evitar a todo custo.

    Sobre as coisas que aprovam, os jovens de língua inglesa dizem "cool". Uma palavra adequada: independentemente das outras características que os atos e interações humanos possam ter, não se deve admitir que a interação esquente e particularmente que permaneça quente: é boa enquanto continua cool, e ser cool significa que é boa. Se você sabe que seu parceiro pode preferir abandonar o barco a qualquer momento, com ou sem a sua concordância (tão logo ache que você perdeu seu potencial como fonte de deleite, conservando poucas promessas de novas alegrias, ou apenas porque a grama do vizinho parece mais verde), investir seus sentimentos no relacionamento atual é sempre um passo arriscado. Investir fortes sentimentos na parceria e fazer um voto de fidelidade significa aceitar um risco enorme: isso o torna dependente de seu parceiro."

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  2. Adorei o texto! E só tenho dois pontos a ressaltar, um deles é que conheci em uma palestra o trabalho da psicanalista Regina Navarro, é interessante porque ela aborda essa questão de ser fiel ou não e acaba concluindo que estamos caminhando para um novo tempo, onde isso não vai mais existir, o ser humano cada vez tolera menos os limites e não poder experimentar coisas por convenções sociais começa a ser um pensamento intolerável.

    O segundo ponto é o começo do texto, sobre se expor ou não. Resolvi no meu blog manter uma linha pessoal e isso me levou a questionar o que é exposição ou não. Tenho quatro anos de blog e isso aparece todos os dias, eu preciso mesmo falar disso ou daquilo?
    Depois de noites torturantes cheguei a uma conclusão, quem escreve tem que se expor, caso não queira que vá trabalhar em uma mina de carvão, garantindo assim até o anonimato facial, sempre com o rosto coberto de poeira. Quem desenha, pinta, escreve, interpreta, enfim, quem cria precisa da própia pele para poder fazer sua obra, sem isso não existe a conexão humana. Não é exposição, é o que podemos dar, nossa criatividade, a base de qualquer arte somos nós e as leis criativas são claras, artista que não se mostra é artista que não tem nada a dizer...

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  3. Adorei o texto. Apesar de ser do time de quem prefere o relacionamento "sem ficar com outras pessoas", eu gosto mais ainda de pessoas honestas e corajosas. Se todo mundo agisse como você, o mundo seria muito mais fácil. Parabéns pelo texto, pela coragem de se expor e por ser sincero. Admirável!

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  4. I-N-C-R-I-V-E-L sempre me pego pensando nisso de fidelidade, namoro expostos de facebook.. E realmente, cada um age de uma maneiro, não tem o jeito certo de amar.

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