Dou seguimento as garfadas apenas por movimento robótico do corpo, deixo-me perder com mais afinco nas rememorações: aquela cagada na cabeça; a tarde em que papai, num espanhol canastrão, e o vendedor de rua, italiano, exerceram com maestria a não-comunicação; eu, pequenina, olhava-os agarrada ao saquinho de milho, dezenas de pombos farfalhavam ao redor. Fernando, anos mais tarde, repetia-se - para onde vão os pombos de noite? - noutro dia quase lhe mandei mensagem contando de alguns refugiados no velho assoalho.
Na medida em que me atrelo a estes fios mnêmicos, tento dar veracidade a quaisquer associações esdrúxulas, possíveis interpretações de meu pesadelo. Rogo nesta busca por apaziguamento, embora meu desejo pareça sucumbir a camadas cada vez mais sombrias e ilógicas. Eu tento, meu bem, eu tento, mas me distraio com outros cigarro que encontro nos bolsos, o último dessa vez, só mais dessa, que é terça-feira, o dia mais longo, cê sabe.
A quentura reverbera do asfalto, os pombos & as calçadas escorregadias, os pombos & a fiação tomada por seus trinta-e-cinco centímetros de existência. Os pombos, afinal, servindo a analogia barata de quem tem paridade no bicho escorraçado, de quem também bica restos orgânicos pelas esquinas, de quem tem o voo preso no retorno contínuo do bate-cartão, de quem é matéria de mandinga e por isso bota os trocados na cesta de búzios, mas não tem culhão para ver no que vai dar.
Eita! Vou do nojo à identificação em três, dois, um...
ResponderExcluiracho que é esse mesmo o processo, querida, rs.
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