Comecinho da noite. Lá fora, aquele vento que se faz notar, uivando pelas frestas das janelas. Fecho a cortina. Sigo em direção à cozinha. Sopa. Hoje uma sopa cairia muito bem. Um caldo verde também seria uma ótima ideia. Ela sempre me surpreende com algum prato simples, mas com complementos criativos. Dizia orgulhosa que era o seu toque especial em ação. Alecrim, especiarias, algum queijo fresco mais fresco comprado especialmente para dar um sabor especial às refeições. Sempre pude contar com seu bom gosto. E com o gosto bom dos seus pratos. Por isso, não consegui disfarçar minha surpresa ao chegar à mesa e dar de cara com um prato raso e alguma coisa bem superficial. Talvez fosse um pedaço de carne tímida, escondido embaixo de uma alface. Olhei para cima e não havia goteiras no teto. Do que o filete de filé estava se escondendo, eu não fazia a menor ideia. Comecei a pensar que fosse por vergonha de seu tamanho. Quis consolá-lo com um tapinha nas costas, dizendo que o importante seria o prazer que ele proporcionaria, mas não sabia muito bem onde estariam as costas do bife. E duvidei também que ele seria capaz de proporcionar muito prazer. Enfim. Corri os olhos pela cozinha, à procura da pessoa que cometera aquele acidente gastronômico. Ela havia acabado de entrar, exibindo um sorriso de satisfação. Será que ela queria me matar de fome? Mulher cruel. É hora de colocar as cartas na mesa! Embora eu talvez comesse também as cartas. Melhor ir com mais calma.
- O que é...
Procuro pela comida no prato, com dificuldade para localizá-la. Ali, encontrei.
- ...isso. O que é isso?
Ela, mal contendo o riso, responde em uma voz fanhosa:
- Dukan foi quem botô pra nór comê!
Eu amo essa mulher.
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