Mariana não podia brincar na rua.
Seu primo mais velho saía todos os dias depois do café da manhã para se aventurar por
aí. Mas ela não podia, não... Era menina. E meninas ficam em casa, meninas não
podem enfrentar os perigos do mundo, porque o mundo é mais perigoso para
meninas.
Uma das brincadeiras favoritas de
Mariana era subir na laje da casa e imaginar que estava num desses filmes de
aventura enfrentando desafios: tempestades, trem que descarrilava, furacão, a
caverna que desabava, ninjas do mal para lutar...
Todas as vezes que sua mãe abria
o portão para alguém sair ou entrar, Mariana saía correndo até a esquina e se
via numa dessas aventuras de ação. Logo sua mãe lhe gritava para voltar e mesmo
com tão pouco tempo de aventura, a garota voltava para casa alegre.
Certo dia, Mariana correu até a
esquina se imaginando fugir de alienígenas. Quando chegou até a esquina, viu
uma Kombi branca estacionada. Ela ouviu um ruído estranho e se aproximou para
escutar melhor. De repente, a porta se abriu. Palhaços com olhares enigmáticos ofereceram
a ela balões coloridos e disseram alguma coisa que ela não compreendia. Ao
longe era possível ouvir a mãe chamando: “Mariana! Mariana! Vou fechar o portão!”.
A menina estava em transe. Eles se comunicavam, mas numa outra sintaxe. Não era português, não
era nenhum idioma conhecido. Era outra coisa que ela incapaz de nomear.
Sentiu-se infinita. Foi desperta pelos gritos autoritários de sua mãe. Era hora
de voltar.
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