Era 6h30 da manhã e meu celular tocou me acordando. No identificador de chamadas vi o número da minha mãe, e pelo horário, já imaginei que fosse uma notícia parecida. Minha avó me veio imediatamente à cabeça, já que ela está sofrendo muito na luta contra o câncer. Ao atender, já preocupado, ouço minha mãe chorando peguntando se eu estou bem. Respondo que sim e pergunto o que aconteceu. A ligação cai. Quando ela me retorna está ainda mais alterada gritando por mim e perguntando como eu estou. Eu respondo que estou bem mas ela parece não ouvir e a ligação cai novamente. Quando o celular imediatamente toca de novo, ouço a voz dela me chamando. "Meu filho, é a mamãe... você está bem?". Respondo que sim e ela me da a notícia que eu não esperava jamais ouvir. Segundo ela, ao entrar no facebook pela manhã, havia visto a notícia da morte de alguém que ela sabe ser muito importante pra mim.
As lagrimas começam a escorrer como se já estivessem armazenadas ali há tempos esperando por esse momento para caírem. Eu só consigo dizer que não é possível que seja verdade e sinto tudo girar. A sensação de desmaio veio de uma vez e minha mãe me disse para deitar novamente, o que o fiz imediatamente.
Ao desligar o telefone e entrar em minha página do facebook, ainda deitado para me recuperar, a primeira imagem que aparece é o sorriso que ocupa o ranking invencível de sorrisos mais lindos da minha vida. Ao lado dele, uma mensagem de um suposto amigo avisando sobre o acidente fatal que havia supostamente levado para sempre as gargalhadas que eu sempre adorei ouvir. Desnorteado eu começo a ler os comentários. Alguns dos amigos mais próximos se questionando da veracidade da informação e ninguém com notícia concreta alguma. Liguei para o celular dele umas duas vezes e comecei a ligar para os meus contatos em busca do endereço dele. Enquanto rezava para que fosse uma pegadinha imbecil de alguém que havia achado o celular dele perdido e decidiu destruir minha manhã de terça feira, já chamava um táxi a caminho da casa que nunca tinha conhecido, apesar dos convites já feitos anteriormente. Quando a voz irreconhecível do outro lado do interfone finalmente respondeu, a sensação de desmaio veio novamente tamanho o alívio que se apoderou de mim. Ele estava bem. Vivo. E dormindo.
Não foi dessa vez que o dono do relógio amarelo se foi. E espero que ele não se vá nunca. Pelo menos não antes de mim. O mundo sem o som daquela gargalhada com certeza seria um mundo menos propício a ser feliz.
Uma vez, quando já não éramos mais um casal, eu disse a ele que o amava. Na ocasião ele não soube entender, ainda chateado com o rumo que as coisas haviam tomado para nós. Reitero hoje o que eu disse. Meu amor por ele nunca acabou, e nem diminuiu. Existem milhares de formas de se amar uma pessoa... e eu ainda estou descobrindo isso.
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